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SOBRE MÃES E AMIGOS

Em dezembro de 2000 minha mãe terminou seu percurso existencial, aos 60 anos e idade, após enfrentar uma doença grave, que ceifou sua vida em 40 dias. Foi um grande baque para o meu pai, para mim e meus irmãos. Como dizem, “mãe é mãe”. Hoje fiz da minha sogra minha mãe. E não era para ser diferente, porque é o que ela é para mim. O mesmo amor de mãe que um filho deseja, como genro ela me dá. Vejo pelos olhos da minha filha ao olhar para minha esposa. Uma simbiose mística e tão humana, cheia de amor, que é improvável ser indiferente a esta identificação mútua.

As mães são a materialização do amor. Muitas vivem em situações de vida sub-humanas e não conseguem proporcionar o amor que desejam para seus filhos, traduzido em cuidados necessários para uma vida digna. Uma parte delas vive as condições do feminino no contexto histórico em que estão, dedicando-se aos cuidados com os filhos e filhas, enfrentando como podem, as vicissitudes do humano, suas dores e angústias existenciais, numa luta contínua por fazer do amor sua pauta de vida. Minha mãe viveu assim, dedicando-se a nós, seus filhos, aos cuidados da casa, ao meu pai, orientando como pode o curso da vida familiar.

Creio que além das mães (e pais e irmãos), os amigos são o esteio de nossa vida saudável. Eles ajudam a segurar nossas barras, estão presentes, aconselham, ajudam a orientar, reforçam posições e ideias, enfim, fazem a diferença. Verdadeiros amigos e amigas são indispensáveis. Por sorte, como disse essa semana para o meu amigo Guilherme, se eu fosse fazer uma lista de todos os meus amigos e amigas, faltaria papel. Tive a sorte, de em momentos diferentes da vida, contar com pessoas imprescindíveis para o meu aprimoramento humano.

Mas alguns amigos e amigas são muito mais que amigos e amigas. São irmãos e irmãs. Foi a vida que me fez ter alguns deles ao meu lado quando mais precisei. Dois deles foram fundamentais. Um em especial, Marcel, com quem nutro uma amizade de 35 anos, desde a época em que eu era seminarista, me deu abrigo, ombro, presença, tudo o que eu mais precisava num momento muito crítico da minha vida. Irmãos fazem isso. Não há outra palavra para classificar um amigo que age assim. Um irmão.

E agora, ele também perde sua mãe. O que eu poderia dizer ou fazer? Não posso estar perto, não posso dar o ombro presencialmente, apenas posso manifestar à distância todo o meu apreço e gratidão. Não só por ele ter sido e ser o amigo que é. Mas por ter me incluído em sua família. Dona Regina e Seu Dito foram um dos casais que mais me trataram bem nessa vida. Foram vários momentos em que aquele olhar cristalino de amor inundou a minha alma. Como fazem toda mãe e todo pai.

Não poderia lamentar essa perna senão com essas lembranças tão boas, do meu amigo-irmão, de sua família tão acolhedora, prestando minha solidariedade com essas modestas linhas. Dona Regina foi uma pessoa de luz e como luz está brilhando no cosmo, como tenho certeza minha mãe também está.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Escolar (GEPHEES), da Universidade Sorocaba. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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