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Angélico Sândalo

Há pessoas que possuem nomes expressivos. Na onomástica, representam muito, sobretudo porque incidem sobre a história dos demais pobres mortais como eu. Alguns caem como uma luva.

            Angélica é uma pessoa que provém do mundo dos anjos e, como tal, suas atitudes deveriam ser derivativas do trato ético-divino. Ela pode materializar em gestos e práticas, uma estadia aqui neste plano material, marcada por atitudes de amor e cuidado para com seus semelhantes. Nunca será arrogante. Apesar das causas que defende, muitas vezes, escandaliza os mais fundamentalistas, que acusam desvios dogmáticos.

            Sândalo é uma típica planta indiana, uma árvore conhecida pelas suas qualidades aromáticas. Perfumando a vida de muitas pessoas, esse regalo olfativo faz a vida ficar mais leve, mesmo diante das intempéries e ocorrências provindas dos intentos perversos das organizações.

            Associar o angélico ao perfume sandálico não é tão fácil. Mas há alguém que, por força do acaso, tem no nome as insígnias da bondade, da amorosidade e o perfume da voz calma e tranquila, própria daqueles que, por amor a uma causa maior, suportam e aceitam até mesmo aquelas dinâmicas da politicagem institucional que lhe colocam para escanteio.

            O sorriso no rosto, a afetividade e a acolhida nunca lhe faltarão. Será sempre fiel a uma causa maior, deixando de lado aqueles espinhos que lhe colocaram em forma de coroa, apartando-o de parte de seu povo, de sua gente. Acolherá outros povos, outras gentes, como partes integrantes do cósmico destino da humanidade, a bondade universal. Continuará a seguir o que a consciência dos justos e mansos de coração indica como caminhos da sabedoria evangélica. Angélico, evangélico, sândalo. E ainda por cima, Bernardino, o segundo na escala do franciscanismo, a maior expressão evangélica da pobreza após as primeiras comunidades cristãs.

            Embasbacado, hipnotizado, estive por alguns segundos a observar uma foto em que este senhor estava sorridente, cumprimentando efusivamente, com fidelidade e amor institucional, aquele que, recentemente, abdicou “do trono de Pedro”. As intercorrências históricas são mesmo incontroláveis. Sempre há um retorno, um reencontro, uma superação, uma evolução. A caridade e o amor a uma causa saltam aos olhos naquela imagem, mais que a figura do sucessor do pescador. Este último, quem sabe, agora sensibilizado pelas dores da vileza de espírito, aquela que trai o bem maior.

            Angélico, sem foco ou holofotes, continuou ali, onde sempre esteve. Assim como Luciano, Mauro e outros colegas de evangelização. Entram para a história sem fazer alardes, sem postular o controle de nada. Humildes, dignos, exemplares. 

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Escolar (GEPHEES), da Universidade Sorocaba. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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