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Quando Dizer é Fazer

O filósofo John Langshaw Austin, criou a famosa teoria dos atos de fala, dentro do que se convencionou chamar filosofia analítica da linguagem. Seguindo a tradição britânica da filosofia analítica de Moore, Russel e Wittgenstein, Austin influenciou alguns continuadores e utilizadores de sua obra como o filósofo americano John Searle e o alemão Jürgen Habermas. Este último, o maior filósofo em atividade na atualidade.

Em sua teoria, Austin, propõe a existência de três atos que caracterizam os enunciados: o ato locucionário, o ato ilocucionário e o ato perlocucionário. O primeiro se refere ao que foi dito, o segundo ao que se quis dizer e o terceiro ao que se entendeu do que se falou. No último caso, estamos falando no sentido ou no efeito provocado no sujeito que ouviu/leu, o receptor.

Austin defendia que a fala é como um contrato entre as partes, já que a linguagem é uma prática social concreta, havendo ligação profunda entre o que se fala e o mundo. Em outras palavras, a linguagem é uma ação, não mera representação, abstração. Há uma eficácia no ato de fala, existindo uma complexidade que envolve contextos, convenções, intenções. Às palavras usadas para descrever situações, chamava de “falácias descritivas”. Ao contrário, as palavras proferidas tem um potencial performativo, seu sucesso ou insucesso não dizem respeito a uma verdade ou a uma falsidade. A linguagem tem capacidade de realizar atos e transformar.

Quando Habermas fala em uma linguagem inserida no contexto de um mundo da vida, colonizado pelas esferas econômica e política, indica que há condições de superação das restrições da comunicação e propõe uma comunidade ideal de fala, a posteriori.

Mas há, por vezes, limites quase intransponíveis. Como afirmara Wittgenstein, “Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar”. As teorias e ideias, desde Aristóteles, nunca estiveram deslocadas da ação. O conceito de práxis que advém desde os tempos do estagirita sugere que não há desvinculação entre pensar e agir. Portanto, nunca há distância entre falar e agir, a não ser que quem fala não saiba realmente o que diz, como lembrara Wittgenstein.
O conhecimento, portanto, é a chave de todo combate aos conteúdos espontâneos e sem fundamento. Não basta dizer para que o que digo seja legítimo. Neste aspecto Habermas indicou com propriedade que a legitimação de normas e ações só podem se dar por uma comunidade ideal de fala que atinge o consenso. Para alguns, uma pura ilusão, já que há esses impedimentos de comunicação. Para outros, uma possibilidade.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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