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Motivos de Alento

Apesar das crises internas verificadas em muitas instituições, naturais por um lado, forçadas por outro, ainda há motivos para esperançarmos. Tenho a impressão de que depositamos muitas expectativas nas lideranças, como se elas dessem conta, sozinhas, de resolver todos os problemas da humanidade. O sentido coletivo da busca de soluções para os problemas e o esforço por pensar um mundo melhor, esbarram neste paternalismo que emana da cultura política. A visão messiânica que se tem sobre as lideranças precisa ser superada, ao menos que valorizemos mais o carismatismo dos líderes e menos seu poder centralizador.

 Há um esforço, no entanto, por parte de grupos e sujeitos individuais, para adensar o pressuposto do trabalho popular, a conscientização e luta por mudanças. Sofremos com essa cultura do centralismo político, muito embora devamos reconhecer que há uma legitimidade no plano institucional – ao menos pelo fato de vivermos numa democracia representativa – do poder de decisão das autoridades. Esse poder de decisão se torna ainda mais legítimo se respaldado pela ação participativa. O ciclo posterior, mais evoluído, na construção dos processos democráticos, exigirá maior participação.

Mas há longos caminhos a percorrer em direção a um regime democrático mais aberto e participativo. Os problemas atuais no campo das relações de poder entre gestores e líderes e demais membros das instituições, demonstra o esgarçamento dos modelos centralizadores de comando, que prescindem da participação democrática. Refazer o sentido da cordialidade no encaminhamento de decisões, quando as diferenças se acentuam, reforçar o respeito a essas diferenças e quebrar o sentimento de rancorosidade e os melindres entre os diferentes e, sobretudo, se é que isso é possível, amenizar os efeitos da perversidade sistêmica quando das lutas pelo poder.

Apesar da dificuldade em aceitar os desvirtuamentos no plano das relações humanas em vários espaços da sociedade, especialmente estes promovidos pelas lutas intestinas pelo poder, a esperança ainda nos espreita. Temos a oportunidade de percebê-la em diversos momentos de nossa experiência social, quando, por exemplo, somos surpreendidos com pessoas e grupos que desejam contribuir de alguma forma para que o compromisso social solidário e transformador se consolide, expanda e continue.

Mesmo com os interditos do capitalismo, valores e práticas que consomem o sentido do coletivo, incentivando modos de competição e controle social, há brechas e resistências que se dão no chão da sociedade, que nos trazem essa sensação esperançosa de que nem tudo está perdido.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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