Esperançar é condição fundamental para os educadores críticos. Como sempre sustentou Paulo Freire trata-se da razão mesma de nossa existência, condição ontológica fundamental. Não há como separar a vida de sonhos e esperanças, factíveis ou não. Nem sempre a realidade converge com nossas expectativas, mas continuamos esperançosos contra toda desesperança. Aprendemos com o tempo, que o mais importante reside na esperança, que nos move para realizar mudanças em nós, psíquicas e materiais. Ações e reflexões que empreendemos e podem nos ajudar no processo de aprimoramento, mesmo que ele seja sempre inacabado.
Perdoar, relevar, aceitar, perceber o sublime nos outros, valorizar a amizade e o companheirismo mais que os estereótipos culturais que nos são impostos quando o assunto é se sentir bem. Diria que, com o tempo, abdicar de toda racionalidade caduca, para perceber a fonte inesgotável de bondade e de energias positivas que existem no cosmo. Se estivermos um pouco atentos, capazes de pensar com mais calma, despojaremo-nos de nossos impulsos primários e talvez consigamos, mesmo com todos os condicionamentos e limites que a vida nos interpõe, ver além do que aparentemente nos faz bem.
Estamos rodeados de armadilhas psíquicas, orgânicas e ambientais. Esse tripé que nos desafia cotidianamente, nosso meio sociocultural e ambiental, as heranças psicológicas e genéticas e, consequentemente, os sintomas que nos acompanham, urge ser repensado na medida do possível. Não adianta recair na reprodução pura e simples do catastrofismo ambiental, como nos alerta Leonardo Boff, mas há uma estreita relação entre o que temos feito com a mãe terra e o que somos. A falta de unidade entre o etéreo – ou o élan vital, como dizem alguns filósofos – e a materialidade, implica em desdobramentos, lado a lado, na nossa vida concreta, corporal e espiritual.
Da loucura da existência sem freios aos anseios mais profundos de paz e harmonia, surgimos todos os dias, ao amanhecer, esperando que algo de novo possa acontecer para amenizar nosso tédio, nossa angústia e nosso sofrimento. Alguns de nós fazemos esforços gigantescos para equilibrar a razão com os sentimentos, sem o aprisionamento habitual dos racionalismos do mundo da pura ciência. E também nos embrenhamos na luta por não sucumbir ao puro sentimentalismo sem coerência cognitiva.
Nesta empreitada contínua, a esperança vai tecendo os fios de nossa existência e nos reerguemos, vez ou outra, altivos, olhar ao longe, sem a cabeça baixa, acreditando que há uma força que nos sustenta e que nos impulsiona vida adentro. É a esperança que nos espreita e que muitas vezes podemos classificar como a força divina que há em nós.