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Autoconfiança

Cercados por desafios os mais variados, vimo-nos todos os dias diante de escolhas que demandam sempre a capacidade de avaliar o que fazer, como se sentir (ou não permitir sentir) e que ações empreender para resolver esses desafios. São problemas no ambiente de trabalho, na família, crises de interiorização, que levam muitos de nós a ser tomados pelo pânico, pelo medo, pela insegurança e pela sensação de morte eminente.

Há várias propostas de enfrentamento dessas realidades, como as que apostam na terapia permanente de vertente psicanalítica, até as de linha humanista, cognitivo-comportamental e a psicologia transpessoal. Esta última, com todos os reparos que possam ser feitos, sugere que a chamada crise de pânico tem que ver mais com realidades existenciais que com disfunções orgânicas. Aposta na tomada de consciência sobre a relação entre o ego de característica controladora, permeado pelo sentido de racionalidade cartesiana e o EU como consciência sobre si mesmo. Na medida em que predomina o ego, o EU fica fragilizado na autoconfiança.

A experiência de viver sugere que há, de fato, a possibilidade de aprimoramento existencial por meio psicoterapêutico, sobretudo a partir das vertentes mais ligadas aos esforços de enfrentamento do inconsciente. Mas nem todos estamos no grau de disposição para estes esforços, por várias razões.

A maioria de nós é mais suscetível, pelos mecanismos culturais de relações afetivas básicas, aquelas que se dão na infância, a assimilar mecanismos de comportamento que minam esta disposição. Aliado a este fator, o poder da sedução da indústria cultural em sua crescente saga por construção de formas de domínio psíquico e de consciência social é outro aspecto preponderante nesta indisposição para a autocrítica e a “segurança” pessoal diante das intempéries da vida.

Somos vítimas de um jogo de linguagem, também ele contaminado, que está associado ao poder. As palavras são símbolos deste exercício de poder, para diminuir, segregar, eliminar, fazer esquecer o outro que incomoda. Nada mais revelador da doença social que caracteriza essa porcaria de relações que estabelecemos uns com os outros.

 Cabe resistir, pelos meios mais adequados, da busca pelo conhecimento e do aprimoramento de outros meios de comunicação, para que essa doença seja extirpada. Só o conhecimento em outras bases, inclusive por meios terapêuticos e muito diálogo qualificado poderá, quem sabe, amenizar a perversidade deste linguajar fascista que inverte situações, numa lógica que beira a sandice.

A força de nossas convicções e nossos desejos mais profundos de aprimoramento existencial, sem dúvida alguma, não nos abalarão em nossa autoconfiança, mesmo diante da violência da palavra e dos desejos de destruição.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Escolar (GEPHEES), da Universidade Sorocaba. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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