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Paciência Histórica

Mário Sergio Cortella  nos admoesta, em sua obra “Educação, Escola e Docência”, referindo-se a Paulo Freire, que a cautela requer a paciência histórica, pedagógica e afetiva. Diz, “a paciência histórica é saber ver o momento em que as coisas acontecem e observar se estão suficientemente maduras para poderem ser mexidas”. E que, como dizem no interior, “é muito perigoso ter razão antes da hora”.

Paciência histórica, continua, ainda citando Freire, é a capacidade de perceber que as coisas têm um momento: “Se você não fizer hoje o que hoje pode ser feito, e tentar fazer hoje o que hoje não pode ser feito, dificilmente fará amanhã o que hoje deixou de fazer, porque as condições se alteram”. Paciência histórica é a percepção do momento adequado em que as coisas podem ser alteradas.

Não há como fugir da reflexão necessária sobre quais são os critérios que orientam a nossa prática. De uma maneira ou de outra, o devir histórico está com eles relacionado. Por vezes, a necessária perspectiva pragmática predomina sobre os idealismos fundamentalizados, porque há algo no horizonte que precisa ser mantido em construção. Os princípios não devem mudar nunca, uma vez escolhidos. Pelo menos deve haver uma explicação profunda, caso ocorra mudança. As táticas e estratégias para garantir o bem geral podem sim ser mudadas, sem que os princípios se corrompam.

Mas é difícil, tanto para quem exacerba o pragmatismo, quanto para quem vive no mundo das idealizações, entender que as junções moderadas entre as duas dimensões pode ser possível. Por sectarismos que emanam dos dois lados, por vezes, planos maiores são jogados na lata do lixo. Os pragmatistas exacerbados abrem mão com muita facilidade de princípios mínimos de conduta, relacionados a sonhos e esperanças emancipatórios. Os idealistas também o fazem quando se imiscuem com o pensar descolado da realidade.

As escolhas devem sempre seguir a máxima de que em última instância vale sempre a consciência individual. Isso não significa que elas devam ser feitas a esmo, desconsiderando o interesse coletivo. As boas lideranças possuem o senso do pragmatismo transformador em seu cotidiano, tanto quanto cultivam sem titubear os sonhos e esperanças. Exemplos não nos faltam. Um dos que mais se destaca, talvez seja o de Mahatma Gandhi, aquele homem franzino que alguns viam como idealista sem pragmatismo, mas que com sua prática persistente nos ideais conseguiu um feito heroico. Falar conta menos que realizar. Como ele dizia, “a alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitória propriamente dita”.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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