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A Luz do Mundo

Recomenda a mensagem evangélica: “Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim num candeeiro, onde brilha para todos que estão na casa. Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus.” (Mt. 5,13-16). Muitos vivem como luzes. Não apenas refletem, mas são luzes, exemplos de bondade e solidariedade.

Na história da filosofia encontramos o recurso simbólico da relação entre luz e sombras. Platão o utilizou na alegoria da caverna. A luz como um oposto complementar das sombras. Há quem saia da caverna, vez ou outra.

Jundiaí perdeu um homem de luz, um bom homem, um homem público. Por muitos acasos da história estive a ele conectado, direta e indiretamente. Ainda meninas, minha mãe e minha tia trabalharam em sua residência, ajudando sua esposa, Dona Brasília, prima de minha avó. Sem saber, minha mãe ajudava uma prima de sua futura sogra. Três dos meus tios foram iniciados no ofício da alfaiataria por este grande homem, Pedro Gazzi. Já mencionara essa sua contribuição em outros artigos, quando meus tios faleceram.

Outra conexão se deve ao fato dele ter sido adepto das filosofias religiosas orientais. Esteve na Índia, país em cujas fontes religiosas meu ídolo George Harrison bebeu para escrever belas passagens musicais. Em várias letras ressalta a claridade da luz: (…) “brilha no alto de um céu azul claro” (Sat Singing), (…) “eles chamam-lhe Cristo, Vishnu, Buda, Jeová, Nosso Senhor. Você é Govindam, Bismillah, criador de tudo” (Life Itself). Não é mera coincidência que sob os pés de Pedro Gazzi, em seu funeral, uma frase indicasse seu modo de estar no mundo, no cosmo, uma estrela.  O céu, que se conecta ao mundo real, nunca está distante. Como na cosmogonia elaborada por Teilhard de Chardin em “O fenômeno humano” é a própria vida, constante, física e espiritual.

Minha família foi ajudada, de forma solidária e despojada, por este homem de luz. Poucos anos atrás fui beneficiado com suas orientações, orações, em um momento de debilidade emocional, diante de uma crise geral. Ficou na memória uma fala que inspirava motivação e esperança, retirada do evangelho. Sussurrando em meus ouvidos, Pedro Gazzi dizia: “vós sois deuses” (Jo 10,34). Marcou-me para sempre. Sempre ligava para meu pai, a quem pedia conselhos profissionais, perguntando sobre mim, meus irmãos, cunhados. Preocupava-se com todo mundo. Nesta páscoa que se avizinha, que a chama de Cristo, luz do mundo, ilumine a família desse nosso amigo. Fica meu agradecimento público, em nome da minha família, por sua obra neste mundo.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Escolar (GEPHEES), da Universidade Sorocaba. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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