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Um Voto de Confiança

Há questões que nos tocam. Com cuidado e por prudência, convém que a manifestação venha após alguma reflexão. Experiências arraigadas nos impelem inadvertidamente, movidos pelo puro sentimentalismo, sem um mínimo de elaboração, ao posicionamento constante. Não que devamos depositar todas as nossas fichas em nosso intelecto. Já é sabido que a razão sensível tem sido promovida a um patamar importante na balança de sua relação com o saber racional.

Observar com o coração implica tempo, não propriamente o tempo cronológico, mas o interior, compassado, profundo. Afeitos muitas vezes aos apelos intelectualistas, desprezamos a qualidade da razão sensível e a afastamos de nós, com cálculos mentais, princípios elementares que dizemos defender. Entre o utópico e o prático, preferimos sempre o prático. A vida exige de nós ações que sejam compatíveis e possíveis com os nossos princípios. A quimera fica na espera.

Não há maior desapego do que abrir mão das próprias opiniões. A espera que a quimera vingue é longa. Na história há momentos de conformismo e momentos de resistência. As resistências se transformaram em conformismo. E agora o conformismo se reveste de esperança, porque alguém ousa abdicar de opiniões correntes, inclusive, aparentemente, anteriormente suas.

Ele se despojou do seu passado, das crenças as mais absurdas que circundavam em seu meio. Despojou-se da riqueza e dos sinais que a visibilizam. Despojou-se do discurso intelectualizado sem recair na superficialidade do falar. Abandonou a segurança das coisas ordenadas para reordenar e reinventar formas de pensamento mais abertas. Retomou a esperança num espírito que há muito havia sido esquecido, dados os efeitos dos interditos à espiritualidade. Apesar de ainda se configurar como uma simples alva branca em movimento, diante do vento que passa, parece estar firme em seu propósito.

As “ilusões” do passado agora se revigoram, tornam-se possibilidade, porque como seu antecessor onomástico, ele e alguns de seus compartilhadores de esperança nos reanimam em nossas crenças. As organizações passam, a razão muda, mas os sentimentos que caracterizam essas crenças permanecem.

Espero sinceramente que o acolhimento, a misericórdia, a compaixão, a solidariedade, mais do que qualquer formalismo sem sentido, estejam mais uma vez na pauta do dia, para que pessoas como eu, adormecidas num longo e extenuado silêncio racionalista, despertem para o amor e a generosidade que ele e outros que sempre lutavam, fazem ressaltar.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Escolar (GEPHEES), da Universidade Sorocaba. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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