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O Uso das Palavras

Difícil explicar o inexplicável. Para quem vê a letra morta, apenas, pessoas e sentimentos éticos são dispensáveis. Escrever e falar publicamente exige cuidado, porque nem sempre o dito é verossímil à intenção e o que é lido também. Daí as posições apressadas, supostamente críticas, descontextualizadas, que não dispõem de elementos críticos de análise, apresentarem-se às pencas, em espaços pouco confiáveis para o debate sério.

A simples falta de uma palavra pode deturpar todo o sentido de uma expressão, dita ou escrita. Os estragos podem ser enormes, por isso o respeito à integralidade da exposição do outro, para que maledicências e intenções vis não tomem forma e contaminem a história de quem tem vida pregressa ilibada.

Com a experiência de décadas de publicidade em artigos científicos e em veículos da imprensa em geral, a responsabilidade aumenta. Em parte porque a exigência de não mentir ou tergiversar é condição sine qua non e, em parte, porque o dever de ofício dos acadêmicos impede a manifestação de meia dúzia de conceitos mal elaborados, que se colocam como indiscutíveis.

É muito comum nos artigos de opinião, que se falte com a verdade conceitual, distorcendo ideias para que a autopromoção deliberada, que se denuncia pelo próprio estilo de texto, se constitua como mensagem subliminar para o leitor menos avisado.

Quem fala ou escreve publicamente tem o dever para com essa verdade. E quem ouve, lê ou reproduz ideias muito mais. Creio que uma norma básica do jornalismo contemporâneo seja o desejo de abordar os fatos de forma imparcial, sem influir deliberadamente no conteúdo da informação. Da mesma forma, os articulistas têm a obrigação de sustentar suas ideias a partir de fontes de pesquisa sérias e não a partir de suas conjecturas pessoais.

Até explicar que “focinho de porco não é tomada”, como diz o velho ditado popular, o estrago moral já foi feito. E a responsabilidade de quem provoca inverdades faz com que sua reputação caia conceitualmente, mais do que a propaganda que supõe promover a respeito de suas ideias ou intenções pessoais.

Construir uma imagem de seriedade e decência leva décadas. Destrui-la por ação de terceiros, leva segundos. Em tempos de falta de solidariedade e de compromisso ético com a verdade, no jogo do vale tudo pela destruição do outro – princípio nada ético -, são poucos os que se habilitam a manter-se firmes em posições fundamentadas, mas abertas e humildes, mesmo que sejam taxados de arrogantes, recalcados, assediadores morais ou coisa que o valha.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Escolar (GEPHEES), da Universidade Sorocaba. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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