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O Refúgio

Milton Santos afirmava que a formação do território compreende a dinâmica de cada período histórico, quando técnicas e formas de produção, objetos e intencionalidades humanas incidem sobre o que, na socialização, se define como espaço e para quem. A acentuação da concentração do poder econômico, no atual processo de globalização, influem sobre a definição dos espaços e sua ocupação, devido à tirania do dinheiro e da informação (deformada e adoentada como racionalidade).

Efeitos perversos deste processo, a crise moral e a crise intelectual fazem supor que apenas os que dispõem dos recursos econômicos devem ter a garantia da identidade territorial e de sua cultura.

A crise sugerida pelo atual tempo histórico é uma ideologia, que impõe remédios para a os problemas que ele próprio cria. Não são poucas as vozes que se insurgem contra os desdobramentos desta situação forjada. Um destes desdobramentos é o êxodo provocado por variações climáticas e econômicas, conflitos militares e lutas políticas que levam massas inteiras a procurar guarida em migrações incertas.

Recentemente o Papa Francisco lançou sua Carta Encíclica “Laudato Si” (Louvado Sejas), expressão emprestada do Cântico das Criaturas de Francisco de Assis, denunciando com veemência como “trágico o aumento de migrantes em fuga da miséria agravada pela degradação ambiental, que, não sendo reconhecidos como refugiados nas convenções internacionais, carregam o peso de sua vida abandonada sem qualquer tutela normativa. Infelizmente, verifica-se uma indiferença geral perante estas tragédias, que estão acontecendo agora mesmo em diferentes partes do mundo. A falta de reações diante destes dramas dos nossos irmãos e irmãs é um sinal da perda do sentido de responsabilidade pelos nossos semelhantes, sobre o qual se funda toda sociedade civil”. (Cap. I, 25).
Enquanto uma destas vozes dissonantes, Francisco conclama, como liderança mundial investida do espírito ético, ao sentimento de solidariedade que o dizer evangélico já expressara: “era estrangeiro, e hospedastes-me” (Mateus, 25:35), também ressaltado na parábola do bom Samaritano.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Escolar (GEPHEES), da Universidade Sorocaba. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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