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O ANIVERSÁRIO DE MARIA CECÍLIA

Na última semana a minha tia Maria Cecília Polli Fachini completou 80 anos. De uma família de 6 irmãos, ela é a segunda mais nova. Os demais irmãos, incluindo meu pai, já faleceram. Duas irmãs ainda bebês, a mais velha e a mais nova.

Participamos da comemoração organizada pelos meus primos. Assim como ocorrera em suas bodas de ouro, fiz questão de prestigiar. Meu pai tinha um laço afetivo forte com essa sua irmã. Eram bastante próximos. E também com meu tio Arthur Fachini, um homem que transpirava serenidade e acolhimento.

Fiquei pensando nos sentimentos que se misturaram em mim nestes dias após o aniversário. Vi com atenção o vídeo preparado pelos meus primos. Gostei demais das homenagens, das falas, das músicas e, sobretudo, da oportunidade de convívio de minha filha, sobrinha-neta da tia Cecília, com os bisnetos dela. Um ambiente de acolhimento e alegria, pela bênção dos 80 anos da irmã de meu pai.

Impossível não mencionar que ela foi uma das pessoas mais presentes e prestimosas durante o processo do adoecimento e morte de minha mãe. Essa mulher de fé criou os filhos com garra e determinação, juntamente com meu tio, um batalhador que durante décadas esteve à frente da antiga Paulicéia. Devota de Santa Teresinha, como eu, fez questão de levar uma imagem da santinha das rosas para colocar na mesa do bolo de aniversário.

Meu primo mais velho, Marcelo, foi quem me ajudou a ingressar no mundo do trabalho, quando fui trabalhar no antigo Banco Real, por indicação dele. É o neto mais velho e sempre foi uma pessoa amorosa e presente. Ele sabe do amor de meu pai pela mãe dele. Nós nos encontramos na cidade de Lisboa, em 2019 e tivemos uma boa conversa regada à pizza. Quando da morte de meu pai ele me mandou uma mensagem carinhosa.

Quando meus pais moravam no Vianelo, bairro onde nasci, quase todos nós, o Marcelo, seus irmãos e eu, estudamos os primeiros anos do primário no antigo Sesi da Vigorelli, porque eles moravam nas proximidades da escola, como nós. Sua irmã, Rosana, chegou a frequentar a mesma classe em que eu iniciei o segundo ano. Em 1970 nos mudamos para o bairro da Vila Rio Branco, ali onde meu pai e meus tios passaram toda a sua juventude.

Minha bisavó, Philomena Bedin Leoni, possuía dois conjuntos de casas geminadas, na rua Dom José Gaspar. Ali meus avós moraram em uma das casas e criaram seus filhos, depois de terem passado por diversas moradias (na rua do Retiro, na casa de meu bisavô paterno; na rua Bandeirantes, onde nasceu meu pai e na rua Prudente de Moraes, na outra casa de minha bisavó Philomena). Posteriormente, quando se casaram, meus tios José e Maria moraram em uma das casas do conjunto e Arthur e Cecília na outra. E depois eles se fixaram na Vila Liberdade. De certa maneira, todos nós vivemos a vida naquela região.

Dentre as muitas sensações que tive, além da emoção (contida) em ver a foto do meu pai nas homenagens, veio outra, nesta segunda-feira, dia em que normalmente me sinto mais introspectivo,  ligada ao fato de que as tias são como mães.  Senti falta da minha mãe, que teria hoje 83 anos. Ela bem que podia ter vivido mais e, quem sabe, participado do aniversário de sua cunhada. Eu teria ficado muito feliz. Minha tia chega ao ápice da vida e isso é motivo de grande alegria.

Estamos todos numa jornada passageira. E o que vale, nesta efemeridade do tempo da vida é o que fizermos durante o processo. Não é sempre que alguém completa 80 anos. Certamente minha tia realizou grandes feitos, criando seus filhos, acompanhando a família nas suas necessidades, como cuidar do meu avô até o fim. Ela é uma mulher forte. Eu sempre considerei, sem demérito algum, que a família Polli tem um algo de fortaleza que não sei explicar, uma coragem maior. Uma forma de enfrentar a vida com mais assertividade, talvez. Vi isso no processo da passagem do meu pai. Do meu lado materno somos mais afeitos a uma sensibilidade por vezes precária, menos corajosa.

E forte e corajosa, a tia Cecília assistiu aos vídeos em sua homenagem, ouviu as falas de seus filhos, as cantorias e, feliz, cantou o “parabéns pra você”, junto à família. Um momento de muita alegria e que certamente se repetirá muitas vezes mais.

Sou muito grato pelo acolhimento e pelas boas sensações que esta comemoração me proporcionou, a oportunidade de conversar com meus primos, de revê-los, de rever seus filhos e netos e de perceber que algo de nós, enquanto família, continua vivo e persistente.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Escolar (GEPHEES), da Universidade Sorocaba. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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