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Crise de Pensamento

Apesar de não podermos creditar toda nossa capacidade de análise à racionalidade cartesiana, instrumental, que tem seus limites, há sinais de que uma crise de racionalidade nos circunda. Apesar de outro modelo de racionalidade ter sido proposto nas últimas décadas, especialmente levando em conta o que se convencionou chamar de razão sensível, evidências empíricas sugerem um empobrecimento intelectual que contaminou todos os campos da vida social.

Na mídia, nas universidades, nas igrejas, nos partidos políticos, nos poderes constituídos, sobra com folga o senso comum, o opinionismo sem fundamento. Nas redes sociais vemos uma avalanche de situações nas quais a grande maioria das pessoas se posiciona sem um mínimo de capacidade reflexiva, reproduzindo o irracionalismo a passos largos. São comentários, blogs de quinta categoria, patrocinados por causas nada nobres, geralmente movidos pelo ódio e o rancor, esparramando preconceitos, homofobia, violência verbal e visual, ignorâncias de todos os tipos. Os próprios temas, preferências e interesses dos promotores do saber virtual, já os denunciam.

Na vida política, pouco atentos ao clamor dos sofredores e oprimidos, governos esbravejam com empáfia em favor de um desenvolvimento sem medida, que elimina vidas e culturas ricas em sabedoria, em experiências de relação com a natureza. A comunidade política internacional se rende ao irracionalismo das instituições do mundo global, que pouco fazem para conter a violência entre nações, a eliminação de vidas, sobretudo crianças, por conta de ódios raciais, disputas territoriais e assoberbamento humano.

No meio acadêmico, vemos grassar o pensamento conservador, em todas as áreas do conhecimento. Estudantes universitários se rendem a “intelectuais” da mídia, gente sem um pingo de conteúdo, que ganha espaço com frequência para propagandear como falastrões, suas bobagens “acadêmicas” contra o pensamento progressista.

No entanto, apesar de não vivenciarmos na atualidade condições favoráveis ao entendimento humano, ao aprimoramento do olhar sobre os problemas reais que nos atingem, ainda há esperanças. A própria constituição do pensamento, enquanto elemento da experiência humana se dá no decurso da história, um processo aberto sempre rico em possibilidades. Toda crise implica e enseja em si mesmo a possibilidade de sua superação. Daí o trabalho árduo que, especialmente os educadores e educadoras devem desenvolver para superar a hipertrofia do pensamento, aproximando o teórico do prático, associando o pensar ao agir e possibilitando que as novas gerações consigam contribuir com mais propriedade para o aprimoramento humano e social.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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