Aquele velhinho franzino com cara de Papai Noel, não poderia ter se tornado o que se tornou, imaginava na minha ignorância. Eu, que como ele, tinha vivido as vicissitudes das derrapadas na vida escolar, por razões as mais variadas. A identificação vinha, além do plano das ideias, pela experiência mesma da condição social. Ao contrário do que dizem para difamá-lo, nunca fez questão dos rótulos, nem os favoráveis, nem os desfavoráveis: comunista, ingênuo, romântico, liberal, católico, ateu.
Vinham ataques de todos os lados, todos imaginando que ele fosse algo que o outro lado pensava não ser. Mas continuava firme naquilo que o distinguiu entre tantos: o humanismo. Independentemente de suas posições políticas ou intelectuais, sempre fez questão de ser um humanista, esforçando-se ao máximo em dar exemplo para os outros. Entre meus mestres tive vários que foram seus alunos ou que trabalharam com ele em universidades como a UNICAMP, a PUC-SP e a USP.
E talvez por essa razão, além das razões de minha própria experiência, tenha eu escolhido estudá-lo com mais profundidade, numa tese doutoral orientada por um de seus amigos mais próximos, Antonio Joaquim Severino. Em grande medida, sem o benefício de conhecê-lo pessoalmente, devo parte de meus humildes resultados acadêmicos ao meu grande mestre, Paulo Reglus Neves Freire. Hoje faz 15 anos que nos deixou.
Para mim e tantos outros continua presente, toda vez que um aluno é diminuído em sala de aula, toda vez que nos encontramos com a ignorância ética, toda vez que a letra se faz mais importante que o significado. Enquanto educadores, temos muito ainda a aprender com Paulo Freire. E com outros nomes importantes da educação, também, claro.
Mas Paulo Freire é Paulo Freire. Paulo Freire não tem igual. Nenhum brasileiro foi tão reconhecido, tão homenageado, tão publicado, tão amado lá fora como ele. Ao nome dele podem ser associados outros, como Florestan Fernandes, Milton Santos, Celso Furtado, mas Paulo Freire não tem igual. Expressivo intelectual, expressiva pessoa humana.