Uma das estratégias utilizadas no embate de ideias é o recurso à ironia. Desenvolvida por Sócrates, essa prática metodológica coloca os interlocutores em posição vexatória. O argumento não claro ou evidente, implícito na ironia – algo que se diz no sentido contrário do que se pretende -, não aparece diretamente, mas subliminarmente.
É uma forma de dizer sem que necessariamente o outro perceba o que se diz, inviabilizando o recurso contrário, se a estratégia for o pensamento linear, racionalista. Nada mais significativo do que “rir da posição do outro”, sabedores que somos, por antecipação, de sua ignorância filosófica. Devemos utilizar esse recurso quando a arrogância dos desqualificadores faz supor que eles estão em patamar de conhecimento mais elevado. Ressalto a importância da humildade, outra característica do pensamento socrático, quando ela sustenta uma conversa ou um diálogo com interlocutores que respeitam seus parceiros de argumentação. Aos arrogantes, a ironia.
Ao enfrentar a desrazão, nada mais eficaz que a comicidade proporcionada pela ironia. Nem sempre o ironizado percebe o desvelamento de sua situação precária e prossegue, insistindo numa reflexão monológica, nos mesmos pressupostos, pouco sustentados empiricamente ou teoricamente. Sem conseguir ver o que os outros percebem como mais propriedade, sua estratégia, quando acuado, é desqualificar, desprezar, deixar de valorizar o que, por inveja sente e vê, projetando no outro o que, na verdade é seu: falta de segurança.
A desrazão denunciada pela ironia perde sempre. Pode até angariar adeptos durante algum tempo, mas seu destino inevitavelmente é o puro esquecimento. Aqueles que, no entanto, interpelados por parceiros que prezam uma razão respeitosa, estarão em posição de pouco ironizar, aceitando a necessidade de uma abertura autocrítica para rever o que se pensa e faz.
Ao faltar ética na crítica dos desqualificadores, perdem a razão, por isso, devemos ironizá-los com saberes que não dispõem. Não porque na esteira de sua imoralidade, percamos também nós o sentido ético da convivência, mas pela necessidade fundamental de nos resguardarmos frente à ignorância perversa e, por razões de consciência e dever moral, a denunciemos.
Aceitar o embate é perder a razão. Manter o compasso, a segurança e a compostura, faz toda diferença, já que o que nos salva moralmente, será sempre a nossa conduta prática, nunca o que dizemos fazer ou ser necessário que se faça. Muito menos o que o outro não fez.