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Um Joelho que Dói

Com o passar dos anos, dizem, vamos adquirindo sabedoria e maturidade. Não imaginava como isso dói. Na “minha sabedoria”, me atrevi a praticar judô para amenizar a ansiedade natural de quem lida com uma tarefa tão importante, mas trabalhosa. O resultado? Vocês devem imaginar. Empolgado com as primeiras semanas, me meti à besta de querer enfrentar um jovem faixa preta, por iniciativa própria.

O professor e os outros praticantes mais velhos já haviam me alertado que no judô o importante não é derrubar, mas saber cair. Espatifei-me no chão e o resultado foi que minha sabedoria aumentou e o joelho foi pro brejo. Quase isso, nem tanto.

Ficar mais velho, ano após ano, não é tarefa tão fácil. Frei Betto diz que os que não temem a morte vão mais longe e aguentam mais o tranco. Não sei não, essa coisa de morte, apesar de natural, não pode mesmo ser uma preferência, já que a vida é tão boa.

Mas não será mesmo que, como no judô, o importante na vida é saber cair? Nem sempre vencer uma luta, ganhar uma parada, significam muita coisa. Saber perder e levantar para recomeçar são os grandes lances do jogo. Claro que nem tudo é tombo. Tem também a oportunidade de ficar em pé diante do golpe. O preparo físico pré-treino é indispensável, porque no treino nem tudo é maravilha. Haverá sempre altos e baixos, alegrias e tristezas, contentamentos e frustrações, tudo em nome dessa tal “sabedoria”.

Manter o humor? Ah! Quem nos dera conseguir essa proeza. Há tantas contrariedades no dia a dia que por vezes dá vontade de sumir, não é mesmo? Sem humor, some a sabedoria. Outra coisa indispensável para viver bem é manter a calma e parecer sempre sereno com as pessoas, mesmo que elas estejam pisando no seu calo. Bem, eu tenho amor aos meus calos, e olha que minha mãe dizia que tenho pés praticamente de uma moça, de tão lisos. Nada contra pés lisos, mas dos meus calos não abro mão.

E também, para atingir o grau máximo da sabedoria, temos que saber respeitar as opiniões alheias – desde elas também respeitem as nossas. Nessa cultura da nominação do mal, a identificação do erro nos outros, que estão na luta pelo acerto, não é fácil aguentar essas tais “opiniões”.

O importante é manter-se vivo, com joelho ou sem joelho. Nas mãos de um bom fisioterapeuta a gente reconstrói o tecido dos ligamentos e vai buscando a sustentação para continuar a caminhada. Nos idos dos meus 52, completados esta semana, tenho dois problemas a resolver. Um deles é o do joelho. Outro é me conformar que, infelizmente, para descontentamento de muita gente, ainda sou imperfeito.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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