A vida da gente é como uma casa. Depois do alicerce, as paredes são levantadas tijolo a tijolo. A base e a estrutura, que surgem da experiência cotidiana, sustentam o todo, com força ou não. Tudo faz parte da casa, que para ser habitável e confortável, vai sendo decorada, renovada vez ou outra, melhorada aqui e ali.
Nem todos os tijolos estão inteiros, por vezes o construtor precisa utilizar alguns cacos, aparentemente inúteis, mas que dão o retoque necessário para finalizar a obra. Se a vida é uma construção constante, precisamos avaliar a importância de cada tijolo de experiência. Na maioria das vezes imaginamos apenas a casa habitável, o aspecto visual e externo, sem pensar no que a faz permanecer em pé.
A beleza é fugaz, a alegria é condição intrínseca ao bem estar e á felicidade. Não ser alegre, indica falta de felicidade. Há pessoas que externalizam alegria, emanam “bons fluídos”, porque fazem de todos os tijolos de sua construção, aspectos importantes de sua experiência. Por vezes, precisamos derrubar as paredes, abrir espaço para o arejamento da casa, reformar o próprio viver sem as agruras proporcionadas pela falta de prumo.
Nem sempre conseguimos perceber que tudo está desalinhado, que precisa ser refeito, repensado. A vida subjetiva nos custa mais caro. A objetiva, relacionada à sociabilidade, pode se constituir como algo menos traumático, dependendo do modo como encaramos o outro e como percebemos a nós mesmos. Não creio que o outro seja nosso inferno, acho sim, que o inferno criamos dentro de nós a partir da interpelação do outro.
Na vida pública, tanto nos perdemos nos valores objetivos que descaracterizam nossa subjetividade, como entendemos a necessidade do outro, da coletividade, da fraterna busca pelo melhor para todos. Basta escolher, basta pensar. Alguns dirão que sempre escolhem o melhor. Fico desconfiado desse olhar. Para mim, escolher melhor é permitir a possibilidade do erro, saber-se falho, agir com humildade.
Há somas que se tornam divisão. Há separações que podem se tornar adição. Considerar todos os tijolos, tanto aqueles que tiram a gente do rumo, como os que deixam nosso ambiente pessoal mais bonito, resulta numa virtude, a virtude da sabedoria, já que nem tudo que aparentemente não é bom realmente é. E nem tudo que aparentemente é bom é. A vida se encarrega de nos mostrar, caso estejamos dispostos a olhar com atenção. Nossas escolhas definem o tipo de bem estar ou mal estar que colheremos, tanto para as questões de foro íntimo, quanto para os interesses públicos e coletivos.