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Qual a Sua Meta?

Ficou famoso um livro de Mário Sérgio Cortella, filósofo brasileiro, cujo titulo bastante sugestivo, “Qual é a tua obra – inquietações propositivas sobre ética, liderança e gestão”, serve como inspiração para as mal traçadas linhas que surgem abaixo.

Em seu livro, Mário Sérgio dirige-se ao mundo empresarial para destacar a importância da espiritualidade e da busca de um sentido existencial que contribua para que os líderes organizacionais escapem da mesmice dos dizeres habituais da lógica dos negócios. Desconfio, contudo, que há muito que superar ainda, no que se refere aos conflitos entre os interesses propriamente ditos do mercado e a vida coletiva, nos espaços em que se trabalha. Não que alguém não possa se preocupar em fazer de seu trabalho algo que vá além dos chavões que se propagam como erva daninha: metas, performances, planos institucionais, eficácia, eficiência e por aí vai.

Sem perceber e contribuindo para que nenhum nível de reflexão se contraponha a esses chavões, vamos reproduzindo em vários espaços sociais os dizeres do mundo empresarial. Faça isso e atingirás o que deseja. Nada contra planejamentos e organização do trabalho. Mas é preciso cuidado. Na vida pública, sobretudo, querer que as ações imaginadas atinjam exatamente os objetivos propostos, sem leva em conta a possibilidade de mediações, conflitos e desvios de percurso é temerário demais.

Misturando interesses sociais, amplos, com o linguajar do meio empresarial, perdemos por demais o sentido da vida pública e do interesse coletivo. Há que se pensar em alternativas que não sejam essas que provém do discurso barato da chamada ética empresarial e da responsabilidade social corporativa. Penduricalhos de um discurso ético empobrecido, essas falações supostamente científicas servem para amortecer a consciência dos gestores públicos e privados, de seus pecados administrativos e sociais.

Homens públicos, principalmente, não podem cair na armadilha do discurso fácil. Precisam estar atentos às reflexões mais ampliadas, como as que associam reflexão filosófica e vida prática, ou as que relacionam o emaranhado social e seus conflitos com as possibilidades efetivas de transformação social.

Não será com palavras de ordem, mas com articulação social e gradual enfrentamento do problema da privatização da vida, que poderemos juntos pensar e realizar o que for possível para tornar a vida melhor.

A sua, a minha, a nossa meta, portanto, nada tem que ver com a sua, a minha, a nossa movimentação social. O social é aberto, contempla possibilidades e entraves. Nele, as metas nem sempre são factíveis. Factíveis são as projeções mais ou menos sonhadas, de vida boa para todas as pessoas.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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