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Professar e Esperar

Sou um deles. Quase trinta anos de atuação profissional, com dissabores e desencontros, decepções e tristezas. Mas com alegrias e recompensas, reconhecimentos e amizades construídas, muitas, felizmente. Não há motivos para lamúrias. Como faróis, temos de iluminar os caminhos à frente para que tanto nós quanto nossos parceiros possamos caminhar minimamente orientados.

Uma amiga escreveu certa vez, num prefácio de um livro, que ser professor é professar. Ela dizia: “pró-fé sou!” Sim, atuar em educação é um verdadeiro ato de fé. Acreditar contra toda desesperança. Enfrentar com altivez a pobreza de concepções pedagógicas que ainda dão o tom do que devemos fazer. Menos técnica e mais humanismo. Mas responsabilidade e menos desinteresse. Também estar disposto, ao menos durante algum tempo da carreira, ao trabalho de luta pela valorização profissional, sobretudo em função de quadros de gestão e políticas públicas que desprezam os educadores. Para certos administradores públicos, parece não haver limites no desrespeito à função social da escola.

Nem todos os colegas de profissão se engajam na luta. Geralmente são esses que mais reclamam, esperando que a mudança caia do céu. E perdem a ternura, supondo que suas responsabilidades devem ser negligenciadas, porque não se sentem valorizados.
Para os que atuam no setor privado, infelizmente, o quadro é desolador. Pacotes educacionais lhes retiram o direito ao exercício intelectual autônomo. Aliadas às formações deficitárias nas academias, a prática de sala de aula vira reprodução de informações desconectadas da realidade. Pior, o educador vira um “empregado qualquer”, mesmo tendo estudado tanto, se qualificado e fazendo a diferença na vida de tantas crianças, jovens, adolescentes e adultos. Não há dignidade que se venda, nem que seja subjugada a um livro didático qualquer ou a uma reengenharia administrativa qualquer.

Por fim, sobram boas razões para acreditar, com fé, nessa que é, segundo um grande amigo, a melhor profissão do mundo. Apesar dos deslizes políticos, da escolha de governantes equivocados, a sociedade como um todo ainda deve muito aos educadores e educadoras, especialmente aos mais comprometidos socialmente e que bebem da fonte das pedagogias críticas humanistas. Por vezes eles cumprem papéis que vão além da mera transmissão técnica de saberes. São amigos, confidentes, lideranças que estimulam e dão apoio, indicadores de caminhos, construtores de sonhos, referências para uma vida inteira.

Nesse dia do professor, manifesto meu profundo respeito a todos os educadores que me fizeram ser o que sou e pelos legados que me proporcionaram.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Escolar (GEPHEES), da Universidade Sorocaba. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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