No último dia 19 o educador Paulo Freire completaria 92 anos. Nenhum brasileiro tem maior reconhecimento público no cenário internacional que este nordestino de Recife. Obteve o maior número de títulos de doutor honoris causa, em 41 universidades espalhadas mundo afora, incluindo Oxford, Harvard e Cambridge, as duas últimas, onde lecionou. Pai da Pedagogia Crítica e precursor da Teologia da Libertação, sua produção é vasta e inclui mais de 40 obras. Um homem assim, não precisa de nenhum reconhecimento por parte de instituições literárias. Entre os menores e afeitos a burocracias de reconhecimento, trata-se de um ritual grotesco. Ao ser aplaudido em seu retorno ao Brasil, disse que quem o aplaudia reconhecia a si mesmo nele.
Paulo Freire é vilipendiado, acusado, negado, criticado. Recentemente, uma revista tida como importante no meio educacional publicou um texto de uma jornalista com distorções conceituais sobre a obra de Freire. Para muita gente que vai da direita à esquerda, ele é considerado doutrinador, ultrapassado, maoista, socialista, marxista, retrógrado, romântico, sonhador, voltado para a consciência, sem importância na atualidade, ultrapassado, coisas desse gênero.
Dizem que despreza o conteúdo para se preocupar mais com o cultural e o político em educação. Ninguém mais que ele defendia o rigorismo teórico, metodológico, a seriedade epistemológica. Não se rendeu ao discurso fácil da “qualidade da educação” e das “competências e habilidades”, ao contrário, reeditou uma concepção clássica e holística para a educação. Apesar de muitas influências, não se enquadra em nenhuma caixinha teórica, nem em nenhum esquema político qualquer. Tanto é que, assim como outros importantes nomes da intelectualidade brasileira, tinha dificuldades em ser identificado como militante político partidário, mesmo sendo. Aliás, muitos dos que ele apoiou foram seus algozes quando de sua saída do cargo de Secretário Municipal de Educação em São Paulo.
Paulo Freire não vendeu o Brasil, não abdicou de suas ideias, não abriu mão de sua coerente construção teórica e não precisa ser incluído no panteão dos literatos brasileiros, porque está muito acima disso. Era, sobretudo, um humanista, respeitador das diferenças, adepto do diálogo qualificado, humilde participante no processo de construção do conhecimento. Dizia que suas ideias deveriam ser reinventadas, não reproduzidas e copiadas. Homens sábios como esse, fazem parte de uma geração que já se foi e será sempre imortal, não de forma fictícia, mas concretamente.