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Opiniões (?) Sobre Educação

Para opinar sobre questões educacionais não é necessário ocupar os assentos das academias. Como a constituição estabelece o direto à educação como um dos mais inalienáveis, dever do Estado e da família, todos têm garantida a prerrogativa de ajudar a pensar quais os melhores caminhos para o percurso escolar de nossas crianças, jovens e adultos. As comunidades escolares devem possuir mecanismos de participação e integração que levem ao estabelecimento de consensos mínimos, embasados em estudos e dados sobre a realidade educacional, inclusive delas próprias, para que o “achismo pedagógico” não tome volume.

Por conta de motivações várias, o opinionismo provém de fontes as mais inusitadas: os homens da lei e do conhecimento, os pseudo jornalistas, os acadêmicos de brevidade e os supostos especialistas que o mercado semeia à mão cheia nos veículos de comunicação, como revistas semanais, rádio e televisão.

Prestando desserviços ao conhecimento e aos interesses públicos relativos à educação, propagam suas bobagens simplistas, como se compreensão tivessem. Alguns deles, que fizeram carreira na educação, nunca leram e nem tiveram acesso aos debates acadêmicos mais profundos sobre questões mais gerais ou específicas do trabalho pedagógico. Ficam papagaiando verborragias pedagógicas sem sentido e ultrapassadas, como se paladinos da verdade educacional fossem. Não conhecem as necessidades das crianças, jovens e adultos, mas as imaginam a partir de seu repertório moralista, que prescreve receitas contra os “absurdos” da modernidade pedagógica. Não suportam a liberalidade de tempo, a autonomia dos gestores e alunos, porque sua lógica é a lógica do controle, da suposta disciplina, da ordem positivista que sugere uma “compreensão científica” dos fatos, como se os fenômenos sociais fossem matéria inerte e não fruto de relações complexas entre seres humanos.

É uma pena que os acadêmicos sérios estudem tanto, para conviver na mídia e junto à formação da opinião pública com esses “colegas de conhecimento”. Um estudo sério e de densidade acadêmica leva no mínimo 3 a 5 anos para se desenvolver e nem sempre faz água. Uma opinião simples, sem fundamento, propaga no vento em minutos. Entre o senso comum e a opinião fundamentada há um fosso enorme.

Como diz o filósofo, todo ponto de vista é a vista de um ponto. Cada um percebe a realidade a partir de seu lugar social, suas crenças, suas experiências, suas encarnações ideológicas. Os olhares compartimentados só podem ser superados com duas atitudes fundamentais. Uma, de natureza ética, a humildade. Outra, fruto da formação intelectual, a seriedade. No mais, o que nos resta é denunciar o embuste e encorajar a busca das bases epistemológicas da pedagogia.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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