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MOTIVOS PARA CONTINUAR APOIANDO UM PROJETO

Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes. (Paulo Freire)

Um dos maiores teóricos da filosofia política, geralmente muito mal interpretado, Nicolau Maquiavel desnudou como ninguém o campo da prática política, colocando-a no chão da sociedade e definindo-a como parte integrante das relações humanas. Ao contrário do que pensam alguns, não objetivava indicar aos governantes a arte de comandar, mas apontar a política como resultado de forças naturais que estruturam as relações de poder entre as pessoas. Para os governantes e governados, sugeria que “(…) um príncipe prudente deve pensar nos modos de ser necessário aos súditos, sempre, e de estes necessitarem do Estado; depois, ser-lhe-ão, sempre leais.”

            Compromisso de quem governa e lealdade de quem confia no governante. Eis o grande nó, atualmente, da cultura política. Indiferentes, descrentes e desmotivados, por razões diversas, alguns cidadãos abdicaram de confiar em quem merece confiança. Fragilidades humanas, deslizes éticos, injustiças, incoerências, fazem parte desse processo contraditório de construção da existência pessoal e da vida social. Ninguém, absolutamente ninguém, está imune às idiossincrasias do ciclo vital. Ninguém é 100% ético. Aristóteles já advertia que a ética é o bem e sua busca. Para ele, a ética e a política possuem a mesma finalidade, o bem do ser humano e da sociedade. Portanto, nada está dado, mas há um caminho a percorrer em busca do bem.

            A perseverança em princípios, a consciência aumentada pelo esforço em compreender melhor a realidade, a ação precavida e justa frente aos desafios de construir uma sociedade efetivamente democrática, em todos os sentidos, fazem dos militantes sociais, engajados na transformação do mundo, construidores de esperanças, a despeito de toda desesperança que nos circunda.

O coroamento da vida profissional de um educador não poderia ser melhor do que com a possibilidade de compartilhar a própria experiência num trabalho público e coletivo. Iniciei minha vida de trabalho como educador no serviço público e parece que agora terminarei. Paulo Freire, o grande mestre da educação brasileira, teve passagem pela vida pública como secretário de educação do município de São Paulo. Sempre aliou seu discurso educacional à importância da formação do sujeito político, comprometido com a transformação social.

            Para os educadores e educadoras, não há como não se comprometer politicamente, em favor ou contra um projeto de mudança social, já que, como dizia o mestre, a atividade política faz parte da natureza ontológica do ser humano.

Eu me comprometo com a mudança, porque minha história pregressa como militante da igreja, do movimento cultural, do movimento cultural, do movimento político e como cidadão, não me permite a omissão. As pessoas conduzem os processos de mudança, de emancipação individual e coletiva, atuando em instituições partidárias e governos, ou na vida comum de trabalho. A maioria delas está diariamente, na luta do dia a dia, se esforçando por fazer algo de bom. Outras se ocupam mais detidamente na organização da vida política, como nossos representantes. Mesmo com todas as contradições que existem na política institucional, não há como, por razões éticas (o bem geral que se deseja e se deve construir aos poucos) abdicar da responsabilidade de escolher.

            Laços antigos de amizade e ideológicos me fazem assumir o projeto do atual governo municipal, como um dos seus modestos artífices. Não tenho dúvidas de que há no sonho de suas lideranças e do governo como um todo, o desejo de emancipar os desvalidos, os menores, os esquecidos, os deixados de lado, os miseráveis, os esfarrapados do mundo, aqueles que tanto Paulo Freire, meu mestre, amava com ardor. Mesmo que muitos não acreditem nisso, eu acredito. Não há projeto que seja perfeito, mas há aqueles inspirados em sonhos populares e outros nem tanto. Não seriamos homens e mulheres se fossemos governados por anjos. Mesmo os anjos, por vezes, tornam-se decaídos. Isso não significa, em hipótese alguma, compactuar com condutas inadequadas. No caso do atual governo de Jundiaí, por tudo que já vi realizar nos últimos meses, há muito mais sonho popular de mudança social do que qualquer outro desejo.

Tentamos fazer juz ao lema do governo que diz que “cuidar da cidade é cuidar das pessoas”. Nunca vi expressão mais feliz e condizente com o meu trabalho como filósofo. Cuidar é ser ético, zelar, preservar, fazer o melhor possível, mesmo com toda crítica, com toda oposição, mantendo a firmeza de consciência ética. Como dizemos na área de filosofia, ser bom não é ser anjo, nem demônio. Ser bom é ser gente de verdade, que erra tentando acertar, mas que acerta muito sem sequer pensar em errar. A excelência (a areté, em grego) é uma busca, não por procedimentos técnicos adequados para elaborar a melhor política, mas pela valorização da pessoa humana. Muitos pensam que governar é tarefa meramente técnica, que comporta soluções pragmáticas e prontas que caem do céu. Em parte deve-se primar pela eficiência técnica. Mas nem quem governa, nem os adversários, deixam de saber que isso não é o principal. Há muitos déficits sociais, e muitas demandas novas que, aumentando a cada dia, produzem mais dificuldade em resolver tudo em prazo curto de tempo, sobretudo quando se quer um mundo econômica, ecológica e socialmente diferente deste que temos e quando vemos que a realidade global é bem outra.

            No entanto, em prazos curtos de tempo, o atual governo, realizou grandes mudanças. São muitas iniciativas, que se fortalecerão com o tempo e que levarão a realizar em grande medida o desejo de cuidar de mais e mais pessoas.

A conjuntura eleitoral e a movimentação social dos últimos meses têm propiciado o recrudescimento de um discurso conservador, capitaneado por organismos poderosos da imprensa, que em nome de uma moralização política, nunca negada como exigência por nenhum cidadão efetivo, ativo e compromissado, tentam interferir nos rumos da vida política. São grupos que, antes favorecidos por benesses na ditadura militar, ajudaram governos que fizeram por dilapidar o patrimônio público, destruir sistemas educacionais inteiros, favorecer o setor educacional privado, instituir mecanismos flexibilizadores de legislação educacional para uma “educação mínima” e sem custos para o Estado, defendendo um “Estado Mínimo”, bem ao modo dos defensores do liberalismo de Estado ou, pior, do Neoliberalismo.

Nunca saí do campo da esquerda como militante político e, neste campo, morrerei. Não sou dos que acreditam que há uma “pureza natural” em quem é de esquerda. Há aqueles que se desviam pelo caminho. No entanto, pelas minhas convicções mais profundas, provindas do discurso libertador – filosófico, teológico e educacional – vejo risco de um retorno “à velha disciplina” do Estado ausente, de um capitalismo monopolista operante em larga escala, mesmo que contra esses males existam, por vezes, poucas vozes e poucas forças políticas efetivamente organizadas para a reação.

Aderindo ao desejo dos líderes deste governo, declaro publicamente apoio ao projeto local e a seus candidatos para a próxima eleição. Tenho minhas preferências pessoais e gosto de pensar e trabalhar sempre por uma unidade ideológica e de ação, independentemente dos meus gostos pessoais. Escolado no campo da “esquerda da esquerda”, ao menos em pensamento, hoje vejo virtudes, sem ortodoxias no olhar, em pessoas e grupos com os quais nem sempre tive relações. É a identificação com o desejo dos dois líderes políticos do município, que, para além dos interesses pessoais, apóio Junior Aprillante (65123), do PCdoB e Gerson Sartori (1320), do PT, como candidatos do governo a Deputado Estadual e Deputado Federal respectivamente. Tenho grande afeição pessoal por outros lideres nacionais e locais muito competentes, mas isso não diminuirá meu esforço pela eleição dos candidatos do governo municipal, uma questão de coerência política.

A coragem é a virtude dos que se sentem limpos. Olho ao meu redor, no trabalho diário na Secretaria de Educação e vejo pessoas bonitas, jovens e outras mais experientes, comprometidas com os sonhos de uma educação libertadora. Sinto orgulho, não desmereço o trabalho de ninguém que ajudou a construir essa estrutura toda.

A política, muitas vezes, é feita com afeto e reconhecimento ao diferente, mesmo que com esse diferente não haja nenhuma identificação em valores e práticas. O que não consideramos boas práticas políticas, tanto no nosso campo como no dos adversários, devemos questionar. Mas preservar as pessoas é fundamental para quem se pretende promover uma visão humanista, de esquerda. Combater ideias e posturas, se necessário, nunca o ser humano.

Tenho procurado manter-me em situação de bastidor, gosto de conversar com as pessoas, entender suas razões, para pensar além das próprias razões. Isso não significa abrir mão das próprias razões. Mas o trabalho por um projeto nem sempre deve ser “visível” materialmente e conferido com a métrica dos votos. Ele garante os votos porque sensibilizamos as pessoas, nos colocamos próximos delas, tentamos persuadi-las com delicadeza e boas razões. Nossos exemplos de comportamento contam muito, nossa integridade não se vende em estratégias de marketing. Somos o que somos e, se nos esforçarmos por sermos melhores como pessoas, tentarmos pelo menos, as identificações se solidificarão. Claro, há também o efeito da palavra colocada publicamente, como testemunho. É o que faço agora, com confiança e humildade.

José Renato Polli. Filósofo, Pedagogo, Mestre em História Social (PUC-SP), Doutor em Educação (USP), professor universitário em cursos de graduação e pós-graduação, pesquisador, escritor. Autor de 14 livros nas áreas de educação, filosofia, crônicas, história e literatura infantojuvenil.

Sobre José Renato Polli

Editor responsável

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