Como diz o professor Pedro Goergen, no prefácio do livro “Ética e formação de professores”, apesar de a formação cultural depender de diversos fatores, em geral a ideia do desenvolvimento de uma sociedade baseada no trabalho educativo, prima pela suposição de que o econômico é o atributo mais importante desta formação. Assevera que esta percepção está relacionada ao fato de que a educação fica relegada a segundo plano na lista de prioridades de investimento.
Mas como educar só surte efeito depois de longos períodos, há que se considerar que, para além dos discursos economicistas que reduzem o papel da educação à tarefa de promover o desenvolvimento econômico, faz-se necessário compreende-la como parte integrante de um processo holístico complexo. Aliás, justamente em função do econômico, o modelo de educação vigente prioriza a dimensão instrumental do conhecimento, considerando que os professores precisam ser “treinados” tecnicamente nas suas especificidades de formação. Resoluções e normais federais têm proposto mudanças nesta perspectiva, o que revela que preponderam ainda os interesses do mercado no campo da educação. O modelo de racionalidade instrumental, diz Pedro Goergen, “sonha com o descarte do professor e sua transformação em operador de equipamentos eletrônicos”. Mas nada suprime o contato humano.
Decorre desta assertiva o terreno amplo, a ser arado, da formação ética. Dela subentende-se a escuta do outro. Em tempos em que as razões individuais sempre são mote para disputas de posições, falta compreensão, diálogo, cordialidade. As defendidas “necessidades” de grupos, tentam ser colocadas como mais importantes. Estabelecer aproximações, diz o professor Goergen, torna-se premência educativa. Por esta razão, educar não é tarefa apenas da escola. A formação de nossas crianças, adolescentes e adultos no campo da vida ética e para a vida cidadã, argumenta, é tarefa para todas os setores e instituições sociais.
Se não analisarmos criticamente o papel que a escola vem desempenhando, certamente reafirmaremos o que podemos constatar a olhos nus, que há em seu seio um esvaziamento da dimensão ética e uma acentuação do modo produtivista de educar, que procura sempre obter resultados “práticos”. Além do mais, diz o autor, a capacidade crítica e ética não são passíveis de ser transmitidas. São os estímulos que, ao longo do tempo, poderão surtir efeito nesta seara. Relações éticas e respeitosas subentendem a intencionalidade de longo prazo, centrada no exercício da liberdade e da autonomia, substratos da vida ética, que não estão dados como conteúdos formais a aprender nos currículos escolares.