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Empirismo e Racionalismo

Ao longo da história da filosofia, um dos maiores debates que vem sendo realizados é o que versa sobre a maneira como adquirimos conhecimento. Desde os gregos, o embate entre a ideia da percepção sensorial como fonte do conhecimento e os recursos de uma razão conceitual, “inata”, estão presentes nas condições de construção dos saberes que orientam nossa prática cotidiana. Este embate culminou, nos séculos 16, 17 e 18 nas célebres disputas entre os filósofos empiristas ingleses, que sustentavam como base do conhecimento as ciências experimentais e os filósofos racionalistas. A principal e mais famosa tese de John Locke afirmava que somos uma “Tábula Rasa”. Os racionalistas defendiam que todo conhecimento provém de uma razão inata.

Immanuel Kant, no século 18, “pôs fim” a esta celeuma, dizendo que a razão é inata, mas os conteúdos são obtidos pela experiência. Essa proposta ficou conhecida como “Revolução Copernicana na Filosofia”. Na atualidade percebemos a intensificação desta dicotomia. Fruto de uma visão dualista do conhecimento, oposições não inseridas na complexidade de análise, simplificam o olhar sobre a realidade. Os pensadores da Escola de Frankfurt falam de uma “razão instrumental” que tem como pressuposto a reificação do domínio, com os ditames da indústria cultural e seu fruto, a cultura de massa. Apesar de uma emancipação possível, mas improvável nos meandros de uma sociedade capitalista.

Alguns intelectuais falam de uma “Razão Sensível”, uma maneira de suplantar os interditos de uma racionalidade fria, calculista. Mas vivemos uma crise de pensamento, que se expressa tanto pela dificuldade em observar de forma crítica, quanto pela forma sensível. A sensibilidade está contaminada por irracionalidades. Fidelismos inconsequentes, simplificações, descontextualizações, pieguismo conservador, que se revestem de sensibilidade e obscurecem a possibilidade da aproximação entre pessoas. O déficit de racionalidade promove esse empobrecimento dos sentimentos, que se tornam mercadorias no jogo de interesses entre verdades supostas e verdades efetivas.

Afetividades pobres tomam o lugar do amor e formas de pensamento ainda mais pobres engrossam o coro da promoção de ódios e ressentimentos. Desvincular as emoções da racionalidade é um grande risco. Mas distorcer as emoções com irracionalidades também. Entre o sensível e o racional, há que se reconstruir mecanismos de superação de dualismos simplificadores (bem e mal, certo e errado) e olhar para a caminhada, a construção humana, cheia de imperfeições, mas plena de possibilidades.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Escolar (GEPHEES), da Universidade Sorocaba. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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