Em uma das mais importantes obras da Pedagogia Crítica, “Os professores como intelectuais”, os educadores americanos Henry Giroux e Anthony N. Penna promovem uma profunda reflexão sobre o papel dos processos educacionais na vida social mais ampla.
Analisando os mecanismos da chamada “educação tradicional” e do “currículo oculto” (investida ideológica subjacente ao modelo liberal de sociedade, mas não tão visível pedagogicamente), indicam caminhos para superá-la. Centrada na figura do educador ou do aluno isolado que “detém” o domínio conceitual e as técnicas “necessárias à aprendizagem”, tal educação limita-se ao ensino e não se constitui como prática social transformadora.
Nos mecanismos convencionais de ensino, o tempo é cronometrado, visto como forma de controle para a quantificação dos conhecimentos adquiridos basicamente por meio da transmissão. Quebrando esta lógica temporal, a Pedagogia Crítica subentende um “ritmo próprio” e uma liderança entre participantes do processo de aprendizagem. Desenvolvem-se relações mais democráticas em sala de aula, com encontros humanistas mediados por uma estrutura conceitual emancipatória.
Livres das amarras do domínio puro e simples dos processos e planejamentos educacionais, educandos e educadores se inserem numa dinâmica de tempo aberto, que compensa as estruturas organizacionais da sala de aula tradicional, de forma que os sujeitos da aprendizagem, especialmente os educandos, fluam numa perspectiva de liberdade. Ao mesmo tempo, mantém-se uma interdependência entre os pares. Enquanto nas salas de aula tradicionais os alunos trabalham quase que frequentemente de forma isolada em práticas racionalizadas por educadores que imaginam que este tipo de ação pedagógica promove a independência, a Pedagogia crítica caminha por outras vias.
Inspirada em seu mentor intelectual, Paulo Freire, essa concepção pedagógica indica como insuficiente é a dinâmica racionalizada, porque ela impede o desenvolvimento de relacionamentos sociais entre alunos da mesma faixa etária e com adultos abertos ao compartilhamento espontâneo na base no diálogo.
Fugindo à ideologização do processo educacional e seu viés conservador, a Pedagogia Crítica sugere um equilíbrio entre o desenvolvimento de talentos próprios e o compartilhamento de experiências entre os estudantes. A noção de ritmo próprio, como sugerem os autores, faz aproximar essas duas dimensões, estimulando os estudantes, que aproveitam as oportunidades de explorar seus talentos e interesses em um tempo que eles próprios possam controlar, construindo saberes transformadores e uma educação emancipatória.