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Tomás e Paulo

Tradição entre os frades dominicanos, Paulo trocou o nome civil pelo religioso. Em 1948 tornou-se Tomás. Viveu uma vida longa, dedicada aos princípios elementares do evangelho, conciliando a rigorosidade dos estudos teológicos e antropológicos com o trabalho pastoral engajado. Percorreu o mundo das universidades obtendo dois títulos de mestrado e outros títulos de doutor honoris causa, atuando como docente e, além disso, recebendo prêmios concedidos pelo seu trabalho no campo social, como o Reflections of Hope, nos Estados Unidos e de Direitos Humanos, em Portugal, que indicam sua esperança na superação da miséria no mundo.

Fez coro ao trabalho social da igreja, compondo um grupo de bispos progressistas junto com Helder Câmara, José Maria Pires, Paulo Evaristo Arns, Aloísio Lorscheider, Pedro Casaldáliga, Angélico Sândalo Bernardino, Luciano Mendes de Almeida, Mauro Morelli, e tantos outros, que assumiu as variáveis da expressão cristã do cuidado.

Seu nome esteve intimamente ligado à fundação da Comissão Pastoral da Terra e do Conselho Indigenista Missionário, atuando fortemente na luta pelos direitos humanos, na defesa das populações indígenas e dos vitimados pela falta de acesso à terra, direito assegurado pela constituição federal. Destemido, foi alvo de perseguições durante a ditadura militar, bem ao modo dos outros bispos citados, todos sofrendo atentados contra a própria vida.

Assim como outros frades dominicanos sofreram as agruras do regime de exceção, Dom Tomás fez valer uma tradição dos religiosos desta ordem, que concilia a seriedade acadêmica com o envolvimento solidário nas lutas do povo, colocando o báculo para guiar e estar ao lado das ovelhas e nunca para oprimi-las.

Aos 91 anos de idade, quis o destino que falecesse no dia 02 de maio, mesmo dia em que outro grande humanista e ativista das causas sociais, Paulo Freire, nos deixou, em 1997. Nenhuma coincidência, já que no reino dos céus há muitas almas que se unificam para dignificar a mensagem evangélica, que é feita, sobretudo, dos ideais de justiça, amor ao próximo, solidariedade e compaixão.

Em um momento propício ao retorno às práticas cristãs movidas pela compaixão e o acolhimento, uma distensão na severidade do discurso oficial, a morte de Tomás Balduíno, o nosso Paulo, pode representar, por um lado, o fim de uma geração de líderes religiosos comprometidos com as causas sociais. Por outro, um reforço ao sentimento de esperança quanto ao futuro do cristianismo.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Escolar (GEPHEES), da Universidade Sorocaba. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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