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A Dor e a Fé

Tristezas e dissabores todos nós enfrentamos e enfrentaremos. Há momentos em que somos tomados pela angústia de nada poder fazer. Limites e impossibilidades nos interpelam a cada instante. Perdas significativas, situações que levam ao sofrimento, são realidades inevitáveis.

Sofremos, choramos, sentimo-nos perdidos diante do inusitado, daquilo que não estava programado. Sim, nem sempre programamos o que nos desestabiliza. Muitas situações da vida não são provocadas por nós, mas elas aparecem, queiramos ou não.

Em espaços curtos de tempo, muitas vezes, uma avalanche de problemas despeja sobre nós o peso da responsabilidade em assumir que não conseguimos alcançar nossos objetivos, que planos não deram certo, que nem todas as pessoas comungam dos nossos ideais. A vida nos tira a quem amamos, pelo processo inevitável do nosso fim material. Deixamos de conviver com amigos queridos, por várias razões. No trabalho, também temos de enfrentar o fato de não sermos autossuficientes, senhores da verdade, admitindo os limites que a convivência nos impõe.

A maior prova de humanidade é assumir tais limites, as dores, os sofrimentos, de forma que, apesar deles, tenhamos coragem de continuar. Nesta empreitada, faz-se necessário recorrer a forças que não são única e suficientemente nossas. Haverá quem diga que não devemos sucumbir às “irracionalidades espiritualistas”. No entanto, estamos bem próximos de comprovar cientificamente o que dizia com altivez Carl Sagan: “a ausência de evidências não é evidência de ausência”.

Por razões as mais absurdas, sobretudo ligadas aos nossos interesses materiais de toda natureza, inclinamo-nos a negligenciar o que materializa cotidianamente a existência da fé. Gestos de cordialidade, compreensão, respeito, carinho, consideração. Perdemo-nos nessa luta insana por ganhar posições, fazer valer opiniões, gostos, formas de encaminhamento da vida em suas mais variadas dimensões. Queremos controlar, estar à frente, ganhar territórios ideológicos sem diálogo, competir, dominar, submeter.

Manias infantis que demonstram o nível de insegurança que nos move, incapazes de conviver com a contrariedade, o diferente, o limite. Não assumimos que nem sempre nossos desejos serão realizados.

Este quadro demonstra que a segurança de posições, diante das intempéries da vida, só poderá vir quando estivermos abertos a forças espirituais que nos orientam, para cá ou para lá, em direção mais ao que aproxima do que ao que repele. Mais ao que converge do que o que afasta. Mais ao que gera humildade que ao que acentua a arrogância. Desta forma, nem toda dor será terrível, porque saberemos em quem nos apoiar.

Sobre José Renato Polli

Editor responsável

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