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Quem Precisa Ouvir?

Não é de hoje e nem é o primeiro a dizer. Basta ter um pouco mais de esforço analítico para perceber o que é óbvio. Quem leu a entrevista do professor Newton Cesar Balzan no último domingo, no Jornal de Jundiaí, sabe do que estou falando. Acertadamente ele centra seu discurso na ideia de que o que torna diferenciado um processo educativo é a preocupação com a disseminação da cultura. A educação clássica grega já preconizava isso.

Como bem destacou, ao contrário do que se supõe com certos discursos sobre qualidade, será a conexão entre realidade e aprendizado que tornará significativo o processo do aprender. Tomados pelas ilusões da qualidade como domínio de conteúdo, muitos sistemas e instituições reproduzem metodologias que só fazem sentido por conta das preocupações com a seletividade e não com a democratização do conhecimento.

Por esta razão decorre sua crítica aos processos tradicionais de ingresso no ensino superior, acentuados como forte mecanismo de controle do acesso democrático e ao direito constituído a este nível de formação. A recente história da educação denuncia a introdução deste controle a partir da aprovação da lei 5692/71, suposta LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) forçada pelo regime militar, que suprimiu por completo a formação humanística e acentuou o controles ideológicos e do corpo.

Autores nem tanto progressistas também vislumbram este quadro de descaracterização da educação formal que vem ocorrendo faz tantas décadas. Desde o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, Anísio Teixeira e vários outros pensadores da educação já apontavam princípios inalienáveis componentes do fazer educacional. Educação laica, pública, única, obrigatória e gratuita.

Na entrevista, o professor Balzan tece críticas aos exageros da privatização do direito à educação. As poucas exceções no setor privado, geralmente se referem a propostas pedagógicas progressistas, que não se valem dos receituários decorrentes da ideia fantasiosa da “qualidade da educação” a partir dos mecanismos mercadológicos. Talvez seja justamente o contrário. A “qualidade social da educação” só poderá resultar da acentuação do interesse público. Colaborações até podem ocorrer, entre público e privado, mas como já está consolidado em vários países desenvolvidos, o trabalho educativo deve ser desenvolvido prioritariamente no campo dos interesses públicos.
No mais, mistificações que decorrem da falta de leitura, enaltecidas em tempos de irracionalismos vários, de perda da sensibilidade coletiva e do recrudescimento do individualismo.

Sobre José Renato Polli

Editor responsável

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