Para mim o melhor lugar do mundo é a sala de aula. Não consigo sentir maior realização e alegria do que atuar neste espaço. As contradições inerentes à profissão docente, a falta de reconhecimento social, os interditos ao aprimoramento da cultura e do conhecimento, nunca serão suficientes para um educador apaixonado pela profissão desistir e desanimar.
Muitas vezes somos acusados de coisas que não somos. Acadêmicos descolados da realidade, educadores que não conhecem o mundo real da escola pública, que não viveram as agruras do descaso dos empregadores públicos e privados e tantas outras idiotices de gente que não conhece a nossa história. Infeliz ou felizmente (tudo é experiência), nenhuma destas críticas é assumida por mim. Não comecei na academia, mas na luta diária do ensino público, quando me envolvi decisivamente com o movimento sindical de professores. Minha adesão ao mundo da academia se deu apenas depois, quando já havia trabalhado na periferia, nos bairros operários, quando já havia enfrentado os cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo, cavalarias e cães adestrados.
O mundo da academia abre horizontes. Ao contrário do que dizem os “militantes da educação”, é justamente a eles que falta conhecimento sobre a realidade, que não é uma matéria inerte, mas que precisa ser interpretada além da própria experiência. Saber da realidade é uma coisa, compreendê-la é outra. Quem possui as duas possibilidades está feito.
Por sorte convivo com pessoas que aprimoram meu olhar sobre o que é educar. Minha seriedade não é diminuída pelo fato de minha amorosidade prevalecer. Tenho orgulho de ser amigo de vários ex-alunos que são excelentes pesquisadores, alguns me passaram a perna na erudição, na carreira. Não dificulto em nada a vida do aluno. Penso que minha missão é justamente facilitar, o que não significa absolutamente “baixar o nível”.
Como exemplo, um texto clássico de Aristóteles como a “Ética a Nicômaco”, leitura dificílima por sua estruturação totalmente fora dos padrões “normais”, pode ser lido como fonte primária pelo aluno, mas certamente a ajuda prévia do professor, mostrando os meandros do texto, seus principais caminhos, conceitos e sua contextualização é fundamental. Leituras puras dos clássicos são necessárias, mas nem sempre.
Esse é um debate aberto, claro. No entanto, sinto-me como alguém que se coloca a serviço do “esclarecimento”, um termo bastante presente em minha linha de pensamento teórico. Não um esclarecimento como transmissão, mas como orientação dialógica, parte integrante da comunicação efetiva entre educadores e alunos, também eles repletos de repertórios que precisam ser valorizados.