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O Olhar de Mãe

Há filhos que já sofreram a dor da perda da mãe. Há mães, muitas mães, que sentiram a dor da perda de seus filhos. Como filho e como ser humano, creio em minha modesta percepção, que a dor das mães é maior. Sinto que é preferível poupar as nossas mães desse sofrimento. Por vezes é inevitável. Figuras concretas, humanas, capazes de amar ou ignorar, mas quando amam, passam da conta.

Com as mães trocamos olhares profundos, sem a necessidade de palavras. O amor delas pelos filhos, pelo menos a maioria delas, transcende nossa vã filosofia. Apesar de perder a minha, sinto que estou amparado por ter muitas outras mães. Minhas tias queridas, em primeiro lugar. Algumas já ao lado de minha mãe, no cosmo. Outras estão aqui, sofrendo as dores intermináveis do parto que é ser mulher guerreira, trabalhadora, criadora de filhos e filhas, amparos para a existência dos demais.

Talvez por isso alguns escritores se refiram à terra como “mãe terra”. O papa João Paulo I, como eu disse recentemente em outro artigo, dizia que “Deus é mãe”. Minhas mães vivas se chamam Cecília, Vilma, Maria, Helena, Aparecida, Mercedes, Irene, Maria das Dores e Lourdes. Não preciso abrir mão daquelas que já se foram, porque sei que zelam por mim e pelos seus. Mas estas, em especial, fazem com que meu coração amoleça, porque as quero bem.

Um olhar além da minha alma tomou conta de mim na última quarta feira. Uma dessas minhas mães me olhou com os olhos cheios de lágrimas, acompanhados pelos meus. Foi um olhar de mãe para filho e de filho para mãe. Estas linhas sinceras são para tentar amenizar, como filho-sobrinho, um pouco de sua dor, de sua perda. Apenas a bondade universal poderá suprir essa sua falta momentânea.

Um filho que se vai, uma história de vida, de décadas a fio. De cuidado, de carinho, de orientações, de paciência, de amor, enfim. Em sua dor, por mais paradoxal que pareça, filhos seus se reencontram, que são seus sobrinhos, se abraçam e reafirmam o amor de irmãos de sangue. Não tenho palavras, além destas, para dizer publicamente para minha tia, que a amo profundamente e que teria coragem de trocar de lugar com ela, para suprimir, se fosse possível, o seu sofrimento.

Essa coragem a bondade universal nos permite, para enfrentar dores diversas. Devemos oferecer como solidariedade aos que nos são próximos e também aos distantes a crença na superação e na continuidade, nesse processo de inacabamento que é nossa própria vida. Sem dúvida alguma, no final das contas, o bem prevalecerá.

Sobre José Renato Polli

Editor responsável

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