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Um Menino

Qual professor nunca conviveu com um menino? Seja na sala de aula, como diretor de escola, como pai, como tio, como primo, todos nós educadores já tivemos algum pequenino por perto. Atualmente eu tenho dois muito próximos. Quando eu tinha quinze anos de idade, nasceu meu irmão. Ele foi pequenino por muito tempo.

Talvez por esta razão, a condição de “menino” seja, diz a indicação evangélica, imprescindível para entrarmos no reino dos céus. Metaforicamente, o filho de Deus, na narrativa bíblica, aparece no mundo como menino, porque não há como viver vida espiritual sem ser um menino. Meninos e meninas, diga-se de passagem. E também nós, adultos, já fomos meninos, crianças. Não que a pureza seja algo natural nesse estágio da vida. Parece-me que “vamos adquirindo” esse traço de caráter, se quisermos. Fará toda diferença o tipo de adultos que tivermos ao nosso redor.

Podemos tentar manter a ingenuidade (essa sim uma característica infantil clara) das crianças. Essa faceta muitas vezes nos afasta das maldades que nos rodeiam, porque não conseguimos percebê-las. Superar a triste condição humana, só nos tornando meninos e meninas. Até mesmo quando agressivas umas com as outras, as crianças não perdem a ingenuidade em relação aos seus atos. Já entre os adultos não se pode dizer o mesmo.

Talvez por essa razão precisemos nos converter. Converter o rumo de nossa caminhada rumo à ingenuidade. A ingenuidade quase sempre é vista como algo pejorativo. Corretos estão os espertos, os atentos, os que sabem de tudo, os que mudam as peças do jogo dos relacionamentos com sua malícia de sempre. Nós adultos somos assim. As crianças não. Podem manipular o comportamento dos adultos para lá ou para cá, mas não de forma totalmente consciente, só por ingenuidade.

A festa do natal é a celebração do nascimento de um menino. Sabe-se que a data exata deste nascimento é desconhecida. O menino ainda é desconhecido. Porque afinal, nós não nos conhecemos. Como diz a letra da canção, “há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração, toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão”. E ele “fala de coisas bonitas que nunca deixarão de existir”. Faz-se necessário que um menino nos interpele sempre, despertando a atenção desse adulto perdido em meio a tantos equívocos.

Fui educado numa cultura cristã. Compreendo que existem muitos outros meninos em outras culturas religiosas. Eles se somam ao menino cristão e, juntos, numa mesma meninice, olham com ternura para nós e nos acalentam com esperança, fé, coragem, simplicidade, humildade e paz. Que venha o menino Jesus, que venham todos os meninos que desejam o céu da libertação humana. E essa seja a libertação de todos os pobres meninos e meninas que sofrem cotidianamente as dores do mundo.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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