Adoro manuais. Eles são muito práticos, mesmo quando não tão profundos. Um de meus divertimentos preferidos é passar parte do tempo lendo as sinopses que alguns deles oferecem – especialmente os da minha área, filosofia.
Encontrei um descritivo da vida e da obra do filósofo judeu Ahad Ha´am (pseudônimo de Ahser Ginzberg, nascido na Ucrânia). Sua obra pareceu-me interessante por ressaltar algo que a boa filosofia utiliza como método, a sátira. Brinca com os conceitos de sabedoria e autoconfiança.
Os sábios seriam aqueles que diante de situações difíceis, analisam todos os lados até tomar uma decisão, vendo as vantagens e desvantagens de cada ação. Ao contrário deles, os autoconfiantes, correm na sua frente e conseguem o que querem. Situações hilariantes provocadas por esses comportamentos acontecem todos os dias. Por vezes, a sabedoria parece não valer absolutamente nada, quando mal utilizada. E nem sempre a autoconfiança pode ser considerada coisa boa, talvez seja até uma insensatez.
A boa autoconfiança, aliada à sabedoria, está na capacidade de compreender e avaliar situações, assumindo erros, fazendo autocrítica, corrigindo rumos.
No manual em questão, consta a citação de um provérbio que Ha´am gostava de utilizar: “Um ato de insensatez que acaba bem continua sendo um ato de insensatez”. Vencer uma dificuldade ou ganhar uma disputa pode significar apenas um pouco de sorte, de contexto, nem sempre tendo garantida a imunidade contra a insensatez.
Saber dosar a sabedoria com a autoconfiança parece ser o caminho correto para que nossas ações no mundo sejam mais significativas. Nem se perder num mar de análises sem fim, nem correr contra a sabedoria só para garantir determinado objetivo. Uma ação duradoura e cujos fins são bons para o coletivo, depende em grande medida dessa capacidade em aliar sabedoria e autoconfiança.
Muito da autoconfiança demonstrada pode significar o escamoteamento da falta de sabedoria. Muito da suposta sabedoria, pode significar vacilo e permissividade.
Todos os dias, no nosso cotidiano, somos interpelados por situações que nos obrigam a optar por um caminho ou por outro. Frágeis na capacidade de avaliar, somos tomados pelo ímpeto da falta de sabedoria, expondo-nos em demasia em nossas autoconfianças. Por outro lado, se soubermos utilizar com mais propriedade a capacidade de análise, a sabedoria, certamente acrescentaremos valor às nossas posições mais assertivas, recheadas de autoconfiança.
Nem o medo constante de vacilar ou de ceder, nem a certeza de que o que desejo se realizará de qualquer forma. Em ambos os casos, sintomas de fraqueza, daí a sátira do filósofo judeu.