Não são poucas as vozes que insistem em apontar que há um déficit de capacidade reflexiva que tomou conta de toda a vida social. O pragmatismo tem andado de braços dados com a preguiça mental. Desprezado o conhecimento mais denso, o mito de que pensar é menos importante do que fazer chega a causar náuseas. O pior ainda é a crença simplista de que o fazer que se faz está separado do pensar que se pensa. Não há dúvidas quanto às emergências da vida prática, os problemas em grande variedade sobre os quais temos de nos debruçar. Gerenciá-los não é tarefa fácil. No entanto, é mais difícil desconstruir essa percepção pragmatista de mundo.
Em educação, os estudiosos indicam que o cerne do trabalho educativo é proporcionar momentos de reflexão sobre os sentidos prováveis que podemos construir, no espaço da escola, para a vida que nos foi oferecida. Perdida num mar de exigências técnicas e burocráticas, a educação escolar se distanciou de sua finalidade primeira, a de formar o caráter e para a vida cidadã. No transcurso da história houve uma inversão e educar passou a significar formar tecnicamente, especialmente para suprir necessidades do mundo do trabalho.
Se houve avanços enormes nas estratégias, formas, debates pedagógicos, maneiras de proporcionar acesso ao conhecimento, por outro lado, a capacidade de perguntar sobre qual a razão de educar ficou relegada a esforços hercúleos de uns poucos.
Os marxistas mais ortodoxos argumentam que o papel da escola é garantir o direito ao professor de transmitir a cultura acumulada. Nenhum problema quanto a isso. Se a percepção das idiossincrasias sociais se dará apenas através da escolarização pura e simples, como se fosse possível superar uma consciência ingênua e evoluir calculadamente, para uma “consciência crítica”, os problemas da humanidade estariam resolvidos. Os estruturalistas, devedores do marxismo, com todos os méritos de terem apontado a escola como reprodutora de uma ordem social determinada, vislumbram poucas alternativas ao trabalho educativo neste modelo que temos em vigência.
Os humanistas carecem de uma crítica social fundada nas contribuições das ciências sociais. Os libertadores, de vertente freireana, conseguiram aprofundar a crítica social e o ideário emancipatório por meio da escola, acentuando a importância da formação ética, sem, contudo, destrinchar de que maneiras a formação do caráter se dará com a contribuição da escola.
A questão que fica é: como aprofundar a capacidade reflexiva sem negligenciar a necessidade de soluções práticas para os problemas que nos afligem? Como cuidar do imediato sem perder de vista a necessidade de pensar um sentido para a existência? Precisamos estar atentos.