Aspectos variados do diálogo entre ambos circularam entre dois temas centrais, o da democracia e o da felicidade. Sobre a democracia, Renato indicou que nunca a humanidade esteve num processo tão aberto de liberdades, ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, a vivência de valores democráticos e de experiências de individualidade nunca estiveram tão truncadas. Por mais possibilidades que a democracia enseje, especialmente no tocante à livre manifestação de opiniões, nunca as ideias, valores e opções individuais estiveram tão presas a um controle externo.
Sujeitos que apregoam a necessidade da prevalência do interesse público disseminam meia dúzia de verdades, ignorando o direito democrático dos outros de ver e encaminhar as soluções para os problemas da vida de outra forma.
São cegos que se intitulam “bons cidadãos, defensores de direitos coletivos”, mas cuja prática, antiética e nada democrática, tem como pano de fundo a desmoralização do outro. Pior, presos ao seu universo mental restrito, consideram ser possível solucionar os problemas complexos com meia dúzia de palavras de ordem e atacando seus “oponentes” com sua verve moralista.
A felicidade, muitas vezes pautada pelos meios propragandísticos como a satisfação constante de desejos, corre ao largo, na adesão barata dos desejantes aos caprichos mal resolvidos em sua interioridade. Na consciência da simplicidade, muitas vezes, encontra-se o norte da satisfação real.
Ler um livro, apreciar um filme, deleitar-se com uma troca de impressões descontaminada, a melodia de uma música perpassada por uma boa reflexão poética, são soluções simples para uma vida efetivamente feliz. A mesquinharia infantil dos que choram continuamente para resolver aquilo que consideram “muito importante”, constitui-se como motivo de muitos sofrimentos. A vida é muito preciosa para ser gasta desta maneira. Esta incompetência ética é a mais preocupante. Ela é que leva à arrogância, não a competência teórica ou técnica. Porque como diziam os antigos, educação vem do berço e respeito ao diferente deveria ser, ao menos entre os letrados, moeda de troca no debate sobre o que fazer.
A felicidade e a democracia andam de mãos dadas. Parece-nos curioso que a defesa da democracia tenha sido preconizada por pessoas tão tristes. Elas estão à nossa volta e a forma mais eficaz de percebê-las é verificar o seu nível de tolerância às frustrações.