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Esperança na Juventude?

Para fazer jus à letra da canção que diz que a linda juventude é “página de um livro bom”, temos ainda muito que caminhar. Talvez porque a minha militância de origem tenha sido no movimento de jovens católicos e posteriormente na Pastoral da Juventude, carrego ainda a esperança de que os jovens sejam um futuro que consolide o que há de bom. Infelizmente nem sempre me convenço de que esta realidade se concretize, apesar da esperança.

Tenho visto com tristeza “que aquele garoto que ia mudar o mundo, esteja com o coração partido e que suas ilusões estejam todas perdidas”. Cazuza já nos advertia sobre a perda de sentido existencial e político da juventude. Muitos se apegam a causas sem sentido e com pouco fundamento. Outros, como vimos na Carolina do Sul nos últimos dias, perdem até a referência psíquica. Estamos cercados de psicopatas que, com armas ou não, desejam o tempo todo a aniquilação dos seus diferentes.

Na minha longa carreira de professor, no entanto, encontro razões para tentar continuar na esperança. Elas aparecem do nada, meio que de repente. Uma delas veio na última sexta feira. Postei uma mensagem sobre o aniversário do grande ídolo da música mundial Paul MacCartney numa rede social. Um jovem que estudou em um colégio em que trabalhei como gestor curtiu a postagem.

Por meio de intercâmbio ele passou um ano no Brasil, vindo da Dinamarca. Sua inteligência era e ainda é brilhante. Em menos de três meses falava português fluentemente. Perguntei no meu inglês de meia tigela se ele estava bem. Para minha surpresa ele respondeu em português. A surpresa foi maior quando ele disse que estava triste porque no dia anterior haviam sido realizadas eleições na Dinamarca e um partido de direita com feições racistas conseguira a segunda maior bancada.

Por um lado, fiquei feliz em ver que ele continua firme em sua consciência social. Por outro, percebi que não é apenas no Brasil que fenômenos políticos embalados no preconceito e em fórmulas conservadoras estão ganhando força.

Chega a produzir grande perplexidade perceber quantos jovens se deixam levar por discursos vazios. Como disse Márcia Tiburi recentemente em um evento, a burrice adoece e se classifica como doença mental que faz sofrer muito, principalmente o outro, já que esta leva à falta de atenção para as necessidades do outro. Está limitado mentalmente quem não consegue entender e se colocar no lugar do outro. Diz ela: “o burro não conversa, não lê um livro”. Fecha-se no seu mundinho de ideais prontas e na sua prepotência. Nem consegue vislumbrar horizontes éticos mínimos e vira sua “metralhadora cheia de mágoas” para todos e dispara incessantemente. Haverá ainda esperanças a cultivar na juventude? Creio que sim.

Sobre José Renato Polli

Filósofo, Historiador e Pedagogo. Doutor em Educação (FEUSP). Pós-doutor em Educação (FE-UNICAMP), Pós-doutor em Estudos Interdisciplinares (CEIS20-Universidade de Coimbra). Atualmente é Professor Adjunto Permanente no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Sorocaba e Professor Colaborador junto ao Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Escolar (GEPHEES), da Universidade Sorocaba. Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia da Educação (PAIDEIA) e Editor Adjunto da Revista Filosofia e Educação (ambos da Faculdade de Educação da Unicamp). Editor responsável pela Editora Fibra e Consultor Educacional. Autor de 32 livros nas áreas de Filosofia, História e Educação, crônicas e literatura infanto-juvenil.

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