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Da Transcendência

Em um dos meus livros (Do etéreo ao imanente: a transcendência como fraternidade), defendo com base não apenas em crenças pessoais, mas em evidências científicas, que não há como negar a espiritualidade como elemento constitutivo da cultura. A mais precisa Antropologia, bem como os postulados da Cosmologia contemporânea, mesmo com opostos encontrados em personalidades com Richard Dawkins e Sthepen Hawking, sugerem que não há como negar a possibilidade de existência espiritual, mesmo diante das ausências, como defendia Carl Sagan.

Também me agrada muito a recuperação teórica gradual dos postulados de Pierre Teilhard de Chardin nas últimas décadas. Confundido com panteísta e sofrendo todos os processos de controle sem a menor chance de ser visto a partir de outro ângulo, o célebre teólogo e paleontólogo morreu isolado e esquecido, tendo sido enterrado em um obscuro cemitério de Nova Iorque. Coube ao cardeal Agostino Casaroli reconhecer e recuperar Chardin para a igreja católica, em 1981, com as seguintes palavras: “Sem dúvida, o nosso tempo recordará, para além das dificuldades da concepção e das deficiências da expressão dessa audaciosa tentativa de síntese, o testemunho da vida unificada de um homem aferrado por Cristo nas profundezas do seu ser, e que teve a preocupação de honrar, ao mesmo tempo, a fé e a razão, respondendo quase que antecipadamente a João Paulo II: “Não tenham medo, abram, escancarem as portas a Cristo, os imensos campos da cultura, da civilização, do desenvolvimento”.

Os papas João Paulo II e Bento XVI reconheceram também publicamente a contribuição de Chardin, seu esforço em associar uma fé inabalável aos postulados abertos de uma ciência em construção. Indicações da possibilidade de interpretação científica sobre a espiritualidade, reificadas dia após dia pelos avanços das Ciências da Religião e das Ciências da Natureza.

Em minha publicação, a ideia de imanência não é tomada como uma negação da transcendência. Ele segue, ao contrário, o preceito que diz que “se alguém declarar: “eu amo a Deus!”, porém odiar a seu irmão, é mentiroso, porquanto quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não enxerga”. (1 Jo, 4:20) Não é possível subentender uma transcendência sem a imanência da fraternidade. Todas as motivações que sustentam ódios e preconceitos, são, opostas ao ideal da transcendência cristã. Isso me remete à obra clássica de Marshall Berman (Tudo que é sólido se desmancha no ar): muitos se recusam a aproveitar a profusão cultural e científica dos tempos presentes.

Sobre José Renato Polli

Editor responsável

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