Um filme muito interessante aborda o tema da função social da escola e da condição de trabalho dos educadores. Em “O substituto”, dirigido por Tony Kaye, Adrien Brody interpreta um professor substituto que é convocado para trabalhar em uma escola pública secundarista americana. Misturando suas próprias questões existenciais com os dilemas verificados no cotidiano escolar, o professor demonstra a capacidade de lidar com a violência, o preconceito, o desrespeito, de forma aparentemente fria, sem envolvimento emocional, mas na verdade assumindo a dimensão fulcral da tarefa educativa: a atuação social e política conscientizadora. Infelizmente, muitos educadores, por razões meramente corporativas, têm abdicado desta tarefa.
O desrespeito ao professor na trama é reforçado pela política pública para educação adotada nos EUA do início dos anos 2000, contexto do filme, visivelmente criticada pelo diretor. O propalado programa “No child left behind”, implantado no governo Bush, associa o trabalho educativo aos valores da produtividade do mercado, impondo uma dinâmica à vida das comunidades escolares pautada pela pressão por resultados e condicionando o financiamento da permanência dos jovens e dos gestores escolares nas unidades a partir de seu desempenho. Flagrante desrespeito ao direto social à educação, um dos pilares da sociedade contemporânea. Em “terra brasilis” essa prática vem sendo colocada em ação por alguns governantes faz algumas décadas, inclusive com o apoio de “importantes intelectuais e especialistas em educação” que julgam a meritocracia um bom substituto do direito social à educação e princípio salvador de gestões que não levam em conta o papel social da educação, preocupadas mais em “manter a sua imagem”.
O filme impressiona e faz lembrar o desdém para com os dedicados educadores e gestores que trabalham pelo bem social. Nenhuma demonstração de afeição e a falta de reconhecimento, que significam pouco conhecimento sobre o significado do trabalho educativo.
Pouco tempo antes de morrer, Paulo Freire lembrava em uma entrevista que muitos gestores públicos parecem nunca ter passado pelas mãos de um professor ou uma professora e só se lembram deles quando das inaugurações de escolas. Professores e gestores escolares comprometidos com a mudança social e o engrandecimento cultural das crianças, jovens e adultos, merecem de vez em quando, uma palavra de afago, um sorriso, um elogio, um reconhecimento pela sua dedicação ao trabalho. Não custa nada, não dói e não afeta os interesses de ninguém, muito pelo contrário.