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Educação como Filosofia

Em todo mundo existem apologistas da correção dos hábitos e vícios sociais por meio de técnicas desenvolvidas no âmbito da educação. Em geral, os que propugnam essa medida, subestimam o papel social dos educadores e educadoras. Soluções behavioristas emergem, como se o processo educacional sempre indicasse bons resultados e vida feliz. São reflexões do filósofo espanhol Fernando Savater, em seu livro “O valor de educar”. O autor analisa os questionamentos que se fazem em torno do papel da escola. Ajudar a inserir no mercado ou formar amplamente? Dar ênfase à autonomia absoluta ou à coesão social? Apostar na eficácia e nos “modelos de excelência” ou no risco da criação? Reproduzir a ordem ou a questioná-la? Manter a neutralidade ou assumir posições ideológicas? Educação é assunto público ou privado? Por fim, levando em conta esses questionamentos, sugere que a maior questão da filosofia na atualidade é a educação.

A reflexão filosófica sobre o papel da educação tem sido obscurecida por jargões das pedagogias descontextualizadas, como “sequências didáticas”, “expectativas de aprendizagem”, “conteúdos procedimentais e atitudinais”, “dinamização pragmática”. Apesar de haver saberes que merecem ser aprendidos, diz Savater, como símbolos, técnicas, valores, fatos, memórias, o objeto maior da educação é fazer crer nas possibilidades humanas, apesar da inoperância de soluções absolutas para problemas insolúveis relativos à existência humana.

Todos nós temos o que aprender e o que ensinar. As pedagogias espontaneístas erram ao acreditar no poder da criança em aprender sozinha. É fato que se viram em muitos momentos criativos, mas querer supor que sempre se darão bem é um equívoco. Como dizia Kant, a educação vem sempre dos outros.

Faz-se necessário reconectar as dimensões educativas clássicas, perdidas nos horizontes da modernidade capitalista. A formação moral e cidadã deve andar ao lado da formação prática. Querer separar educação de instrução é ridículo, porque ou não formamos para a vida prática, ou não formamos para a vida ética e política. O universo macro da educação, sempre aberto, faz-nos imaginar o que nos falta no aspecto técnico, prático. Se ressaltarmos apenas o técnico, cairemos numa cilada irreversível, de não formar para a vida cidadã. Outra falácia é a separação da capacidade de abstração, do pensar sistêmico e da complexidade interpretativa, próprias do campo filosófico, dos saberes práticos, da ação. A capacidade de empreender projetos coletivos fica afetada se não desenvolvermos a capacidade de abstrair. Educar é fundamentalmente filosofar.

Sobre José Renato Polli

Editor responsável

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