Em alguns momentos do exercício docente nos colocamos a refletir sobre quais são, na verdade, as grandes qualidades de um grande educador ou educadora. Paulo Freire já escreveu, na Pedagogia da Autonomia, quais são essas qualidades. No entanto, apesar das indicações do meu mestre, minhas intuições pessoais, associadas aos meus estudos acadêmicos, me proporcionam uma impressão que é em parte científica e em parte emocional sobre quem é o grande educador ou educadora.
Na última semana tive a oportunidade de participar de uma conversa longa com Lisete Arelaro, diretora da Faculdade de Educação da USP, uma das maiores educadoras brasileiras na atualidade. Foram vários os assuntos, desde as mudanças nas características de Jundiaí, até os fundamentos que embalavam os sonhos dos militantes progressistas, muito influenciados pelo pensamento libertador, em fins dos anos 60 e durante as décadas de 70 e 80. Logo depois ela se colocou a falar, durante a palestra para a qual foi convidada.
Absolutamente hipnotizado pela sua capacidade de associar o teórico ao prático e manter a plateia atenta, lembrei-me de detalhes muito significativos da conversa e de situações anteriores, durante o momento em que conversávamos a sós. Uma lisura impressionante, incapacidade total para falar mal de alguém. Grande humildade. Apesar da insistência de algumas pessoas que passavam pelo local reservado para seu descanso anterior à palestra, não percebendo do que se tratava aquela situação, solícita, ajudou a carregar algumas caixas e realizar esses “préstimos”. Impressionado, foi como fiquei com sua extrema humildade.
A palestra não precisa de maiores avaliações, os presentes já demonstraram o quanto gostaram de sua fala. Muito em consonância com o que penso, já que ela é também uma grande admiradora de Paulo Freire, meu mestre. Trabalhou com ele e recentemente conseguiu, no âmbito de uma universidade tão difícil como a Universidade de São Paulo, conferir o título de Professor Emérito ao grande educador brasileiro.
E pensei com meus botões: o que faz com que um educador seja assim? Tão sério do ponto de vista científico e acadêmico e ao mesmo tempo tão disponível? Dentre milhares de “especialistas” em educação que todo dia ocupam as páginas das revistas e grandes jornais para vaticinar quais os problemas e soluções para a educação, Lisete Arelaro representa o oposto. Nada de atitude mercenária, nada de soluções mirabolantes, como a daqueles que gostam de ganhar dinheiro com palestras e serem vistos como “os tais”. Apenas a humildade habitual dos grandes educadores e educadoras, que valorizando o sentido público e político do ato educativo, emanam alegria e compromisso no exercício da tarefa enorme de tentar a ajudar a mudar o mundo.