Durante 34 anos venho estudando um dos maiores teóricos da comunicação de todos os tempos, intelectual de envergadura internacional que defende o direito à fala e a capacidade para o diálogo: Paulo Freire. Há 14 anos me dedico ao estudo da teoria do agir comunicativo de Jürgen Habermas, maior filósofo da comunicação da atualidade.
Sua percepção sobre a comunicação entre pessoas em boa parte provém das teorias de Austin e Searle. A teoria dos atos de fala (Speech Acts) indica como meta realizar uma descrição das regras que um falante competente tem de dominar para formular comunicações corretas e emiti-las de forma aceitável. A competência comunicativa implica o domínio de regras, que não se confundem com a mera descrição empírica a partir de uma língua e de contextos contingentes.
Os impulsos comunicativos, por se basearem em presunções de verdade se fundam no fetiche do verdadeiro-falso, que reproduz as incomunicações. A verdade não é apenas comunicação, ela implica, na teoria dos atos de fala de Austin, uma composição em três partes: o ato locucionário (o que se profere verbalmente), o ato ilocucionário (realização de uma ação através da fala: dizer possui força de ação) e o ato perlocucionário (o efeito sobre o interlocutor: as consequências do que dizemos para os outros).
Habermas tenta imaginar uma possibilidade de comunicação que leve a consensos provisórios em condições ideais de fala, para garantir significados universais de entendimento. Ao não colocarmos em posição de entendimento orações e atos de fala, não poderemos validar e tornar aceitável uma fala de um participante da comunicação quando há distorções de entendimento. Uma falácia descritiva pode reduzir o ato da comunicação, quando o agente da “comunicação” incorre numa pretensão de validez que não encontra aceitação racional entre os pares. Ao emitir a comunicação o postulante da demanda deve cumprir os pressupostos universais da comunicação. Só tem força de efetiva comunicação o ato de comunicar que realiza duas metas: ser compreendido pelo ouvinte e, posteriormente, aceito. Ou seja, a validade tem que encontrar sentido universal para as partes. Caso contrário, o entendimento não acontece.
Se não houver interação intersubjetiva na linguagem e na comunicação, prevalecem as falácias interpretativas. Desconstruindo a chance do outro, que sequer disse, o postulante da ação que deseja transformar algo pela fala cai no ridículo de não comunicar e exigir que o outro diga o que ele quer ouvir. E assim, nunca haverá diálogo, mas patologias da comunicação.