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São Crianças Como Você

Uma bonita música de Renato Russo diz que os pais são crianças como os filhos. Na minha memória surge também um antigo comercial em que um pai está dando uma bronca danada em um filho adolescente que fuma escondido. Noutra cena, a situação se inverte, com o filho já adulto dando bronca no pai idoso fumando escondido. Talvez a letra da canção e a cena do comercial revelem que no fundo “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”, na outra letra de Belchior. Sim, temos muito da genética e da cultura como heranças paternas em nós, apesar de nossa subjetividade tente, por diversas outras influências, subsistir. Não sei o que é melhor ou pior, mas tenho a sensação de que não conseguiria viver ser as influências de meu pai.

Se eu tivesse um filho, ou se tiver ainda, gostaria muito que levasse o nome do avô, afinal, “meu filho vai ter, nome de santo”. Sim, vejo meu pai como um santo que completará 76 anos amanhã. E nada melhor do que registrar meu amor por ele que dedicar este artigo à sua saúde, à sua vida, que ele celebra com coragem e dignidade faz tanto tempo.

Muitas pessoas pensam que temos que lhes dar provas de nossa honestidade e de nossos valores o tempo todo. Pois eu digo que o que testemunha nosso compromisso com a verdade é a capacidade de honrar o nome de nossos pais. Felizmente eu tenho um pai que dispensa comentários. Não chego aos seus pés em termos de honestidade e caráter. No entanto, não me lembro de alguma ação sequer da minha parte que o tenha desonrado. Muito pelo contrário, sinto a alegria dele em ter-me como filho, assim como a meus irmãos. Não é ato narcísico, mas reificação do que ele sempre foi. A prova viva de sua existência plena está dada na realização pessoal de seus filhos.

Há muitos filhos que não honram seus pais. Mentem, enganam, vivem sob as sombras do ódio e do desamor. Alimentam-se daquilo que não lhes é familiar, negando sua própria origem.

Meu pai é um homem normal e, portanto, creio que eu também seja. A santidade de uma pessoa está justamente nesta característica, a normalidade. Os anormais não podem ser santos, muito embora muitos santos também sejam pecadores. São metáforas da condição humana, palavras que usamos para dizer o indizível. Pais e filhos, relações para além da materialidade, perpetuação da dignidade.

Ao viver a velhice com galhardia, nossos pais dão provas de que no final das contas, somos todos iguais, pais e filhos. Necessitamos de todas as condições humanas para viver. Por isso talvez, a letra de Renato Russo insista na condição de nossos pais, que precisam de nosso afeto, porque no fundo são crianças como nós. Meu velho é uma grande criança e eu, um pequeno adulto.

Sobre José Renato Polli

Editor responsável

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