Como sabe todo bom historiador, questões sociais no Brasil sempre foram vistas como caso de polícia. A nossa origem republicana não nos deixa mentir, quando, por exemplo, a limpeza social no Rio de Janeiro, ocorrida em 1904, abriu as portas para empurrar os pobres margem afora. E toda ação pública para amenizar ou resolver os problemas de toda ordem: moradores de rua e suas condições iniciais e derivadas (alcoolismo, abandono, prostituição, envolvimento com drogas) são vistas como ineficazes. A solução, diz parte dos incomodados, alegando a “feiza” das ruas a insegurança é voltar ao velho ditado da república velha. Mas as ameaças não estão localizadas apenas nas ruas. Por vezes elas estão plantadas nas atitudes, naquilo que vem de dentro de cada um.
Há aqueles também, que movidos pelo sentimento de caridade, não conseguem dar passos largos em direção a políticas públicas eficazes, associadas a outras áreas, para seguir parâmetros de acolhimento e supressão do abandono nas ruas seguindo critérios técnicos oficiais. O velho assistencialismo ajuda, mas por vezes atrapalha demais. Nosso querido Betinho entendi muito bem disso ao idealizar a campanha “Ação da cidadania contra a fome, a miséria e pela vida”. É preciso dar a mão num primeiro momento e depois trabalhar pela consolidação de políticas de geração de renda e emprego. O resto é possibilidade de desserviço social.
Desta forma, só nos resta reconhecer que, mesmo havendo esforços para que se consolidem políticas públicas que resolvam o problema do abandono, elas têm sido insuficientes. Em parte porque não associadas a uma arquitetura social em bases igualitárias economicamente. A economia solidária tem muito a oferecer neste aspecto. Em parte porque os corações e atitudes humanas ainda precisam mudar. O papel da escola neste aspecto é fundamental: sensibilizar eticamente. Só assim poderemos fugir à pergunta fulcral que serve como mote deste modesto artigo: “onde está o teu irmão?” Nossa resposta poderá continuar sendo a mesma de Caim: o que tenho a ver com isso?