Todos precisamos nos alimentar para manter o corpo e a saúde em dia. Nem sempre nossa dieta é adequada. Sujeitos aos apelos da indústria da alimentação, acabamos caindo numa armadilha ao ter que escolher entre milhares de ofertas esparramadas prateleiras afora, sem mesmo ter a certeza de que estamos fazendo o melhor. São tantos ingredientes para manter o que se come em condições, que certamente há mais riscos à saúde que ao mercado.
No entanto, há outros tipos de alimentação com os quais precisamos também nutrir cuidados especiais. Um deles é a alimentação da consciência, ao menos no âmbito das possibilidades, que deve ser regada sob os óleos e especiarias do conhecimento. O conhecimento é fornecido em diversas prateleiras da vida, sob forma sistematizada ou não. Alguns que não provém desta forma, são tão importantes quanto os que são. A escola, palco da troca destes conhecimentos, nem sempre oferece a pretendida salada de oportunidades. Muitas vezes a receita é sempre a mesma, revestida dos jargões culinários do discurso pedagógico predominante.
As intolerâncias alimentares aos saberes que fogem ao esquema das caixinhas de conhecimento também são muito comuns e a profilaxia para esta patologia tem se tornado deveras complexa. Mergulhar no universo do conhecimento como alimento para a prática educacional não é apenas se formar teoricamente, nem tampouco valer-se da suposta superioridade do trabalho empírico em relação ao teórico. Nem uma coisa, nem outra.
Conhecimento, enquanto alimento para a vida docente e para a vida mais ampla, implica viver a realidade prática e dela apreender o que pode se tornar objeto da crítica. Porque o que se extrai da realidade nem sempre condiz com a boa alimentação, nem o que se imagina como bom alimento vendido nas academias também corresponde às necessidades de manutenção da consciência.
Há quem diga, também, que outro tipo de alimento para manter a vida, que pode provir da tanto dos saberes sistematizados, da experiência sensível, como da sensibilidade ética, é o alimento espiritual. Ele não se confunde com prática religiosa, nem merece disciplina curricular específica. Cultiva-se diariamente, entre desesperanças e medos, entre realidades concretas e sonhos factíveis. Seja lá como for, creio que esta junção de alimentos: o conhecimento teórico, a experiência sensível e uma sensibilidade ética que pode subtender algum nível de espiritualidade, corroboram para manter a saúde em dia.