Como é sabido entre os acadêmicos, a nota de rodapé é um recurso metodológico que tem como objetivo aprofundar em destaque um conceito, uma informação contida em um texto, demonstrando criteriosidade de análise do autor, atento em indicar riqueza de detalhes em sua reflexão. Antigamente a nota de rodapé servia como verborragia sem sentido, reprodução de trechos de outros textos ou menção a eles, o que indicava pouca capacidade de autonomia de pensamento.
Tomo este recurso como metáfora para pensar o quanto de desrazão nos cerca. Muitas vezes, aquilo que é óbvio e atestado pela notoriedade de quem pensa, nem sempre é percebido por quem não pensa. Nem mesmo o velho recurso à autoridade, mecanismo aristotélico ainda válido, contenta os conformados, aqueles cujas ideias empacotadas impedem o avanço de pensamento, porque submetidos à lógica da insegurança, do medo, da inabilidade para o risco.
Isso não quer dizer que, como inconsequentes, nossa adesão barata a qualquer discurso deva prevalecer. Existe muita superficialidade de propostas para problemas de vida social mais ampla. Muitas são tomadas como “novidades benfazejas”. Aqueles que possuem lastro de conhecimento não se deixam levar pelas perfumarias.
No entanto, o medo do risco, diante de supostas “necessidades sociais de manutenção dos mecanismos de ação” é na verdade, um desserviço à criticidade, à criação transformadora, que envolve aproveitar o velho sem temer o novo. Em educação, geralmente há apenas dois riscos básicos. Um é de assumir apenas o que é velho e dele fazer uma receita infalível. Este é o pior de todos. Outro é a tentação de nomear o novo como uma “originalidade sem origem”, como se, caindo do céu, as soluções “novas” dessem conta de resolver todos os problemas da área.
Recorrendo novamente a Aristóteles, resgatamos a ideia de que a virtude está no justo meio. Nem tanto o céu, nem tanto a terra. Se por um lado, os temerosos atravancam o avanço do pensamento educacional, por outro lado os espontaneístas aderem a qualquer discurso fácil e sem fundamento. Nem tudo que é tido como velho deve ser negado, como nem tudo que é anunciado como novo é realmente novo.
Fazer algo novo é providenciar o emergir do óbvio. Do meu ponto de vista, as fórmulas fixas suprimem o diálogo qualificado, impedem a conversa, a criatividade e a amorosidade. Todas estas características emanam de duas fontes primárias: a seriedade ética dos educadores e seu empenho em estudar a fundo o que de fato tem valor como fonte teórica.
Propor caminhos para a educação é como investir nas notas de rodapé. Geralmente elas passam ao largo de quem lê, mas são imprescindíveis para a compreensão do texto da vida.