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Fora do Comum?

Talvez as pessoas esperem que os articulistas se manifestem sobre os assuntos que elas desejam, especialmente aqueles que estão na baila das discussões. Às vezes é importante, pois como dizia um grande pensador, o educador tem obrigação de dizer o que pensa. Mas hoje vou fugir do lugar comum. Há vivências que não podem passar ao largo.

Minha entrada no mundo dos livros, com minha primeira publicação, se deu escrevendo sobre minha relação com dois animais de estimação. Ambas já deixaram este plano e se chamavam Tammy e Princesa. Já tive muitos animais. Foram 14 cães, dos quais 8 já se foram. Hoje convivo com uma senhorinha bem idosa, chamada Mira, que acabou de completar 17 anos e outros 5 cães de diversas idades. O mais mocinho, um enorme cão de guarda, levou o nome de Francisco e está com 3 anos.

Os cães são uma das minhas paixões. Tenho muitas razões para isso. Talvez nunca tenha revelado publicamente, nem mesmo para minha família, mas esta relação começou com uma dor. Quando adolescente ganhei uma linda menina a quem chamamos de Lassie. Minha mãe não tinha a mesma afinidade com animais como eu. Naquela época, a falta de conhecimentos e de recursos, fazia com que um simples remédio para vermes se tornasse um grande transtorno. E eu perdi a convivência com aquela linda menina, a quem adorava. Minha mãe não a quis mais. A dor foi imensa, uma das minhas maiores frustrações enquanto menino. Mamãe não teve culpa, era o que ela podia fazer, mas fiquei muito marcado por este evento. Tanto, que quando adulto, já fora de casa, um dos meus maiores sonhos, por mais infantil que pudesse parecer, era ter um cão de estimação.

Hoje tenho a sorte de ter convivido com muitos e ainda continuar a conviver. O que me anima é chegar em casa depois da minha tripla jornada e encontrar o Chico, meu amigo fiel e todos os meus outros amigos e amigas; poder ser recebido com a alegria de sempre.

Metaforicamente, cuidar e ser cuidado, parece ser uma das faltas às quais todos como seres humanos estamos submetidos. Os cães podem ser ferozes em alguns momentos, mas o ser humano ainda mais. Domesticar nossos instintos e nossa razão, para que em nós prevaleça a alegria da convivência pacífica não parece ser tão fácil. Dominados pela permanente insatisfação, não vemos a gratuidade da vida, o bem de poder sentir a proximidade humana, mais que as diferenças.

Nos meus animais encontro forças, muitas vezes, além é claro de muitas pessoas de bem com quem convivo, para continuar a jornada desta vida. Afinal, vale a pena compartilhá-la com seres especiais.

Sobre José Renato Polli

Editor responsável

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