Milton Santos morreu dizendo que falta um projeto para o país. Yves de La Taille afirma que a educação é uma usina de sentidos. Infelizmente, a dinâmica dos processos educativos ainda está marcada por outra perspectiva, menor, que não corresponde a estas intenções.
Filósofos são como as águas descritas na metáfora de Leonardo Boff. Tentam olhar o todo, quando as galinhas olham apenas para o chão que lhes interessa. A falta de visão de longo prazo faz com que a educação se reduza a um fazer sem sentido. Pena que tantos desprezem esta profissão, considerando os filósofos pouco pragmáticos.
Alguns anos atrás um filósofo esteve à frente do ministério da educação. Foram várias contribuições importantes, nada muito revolucionário, mas passos significativos em direção à quebra de paradigmas. Instituição de novos mecanismos de seleção para as universidades públicas, democratizando o acesso;
criação de novas universidades; uma pauta deixada pronta para a reforma curricular do ensino médio, que ficou engavetada. Três iniciativas propícias para tornar a escola uma usina de sentido, favorecendo o debate sobre formas de trabalho por grandes áreas do conhecimento. Fernando Haddad era este ministro.
Ganhou projeção e virou prefeito de São Paulo. Com todas as idiossincrasias do nosso sistema político, o atual prefeito de São Paulo parece-nos uma pessoa de visão, que como águia rascunha sonhos além do pragmático. Minha defesa de seu nome, aqui, não tem nenhum cunho partidário, apenas me refiro à sua formação profissional. Poderia mencionar, para balancear a reflexão, Celso Furtado, também um grande ministro da Cultura no governo Sarney.
Agora somos surpreendidos com a nomeação de outro filósofo para o ministério da educação. Parece-nos que a presidenta acertou nomeando um técnico de viés democrático, capaz de dialogar com todos. Não que haverá salvação para o mundo a partir de agora, mas Renato Janine Ribeiro é nome respeitadíssimo no meio intelectual, como um daqueles que representa a águia que olha o cenário de cima e sabe exatamente por onde começar. Sem querer idealizar essas figuras públicas, apenas quis registrar meu regozijo com o fato de que colegas de profissão tenham sido convocados para fazer a diferença. Renato Janine Ribeiro é um homem da construção democrática, capaz de dialogar com civilidade e respeito. Alguns dizem que as estruturas não permitem mudanças. Eu, como historiador, digo que nada é imutável. O futuro são muitos, dizia o velho Milton Santos. Como acreditei em Fernando, acredito em Renato. Nomes simbolicamente significativos para mim, de total confiança.