Estamos cercados por uma onda de irracionalismos. Fundamentalismos, simplificações teóricas, distorções do conhecimento, moralismos exacerbados, excrescências da vida social que se reproduzem como coelhos, especialmente em veículos de baixa densidade reflexiva. O conhecimento, fruto de investimentos longos, vai sendo substituído por delírios agilizados em “novos veículos de comunicação”, tomados como verdades absolutas.
Desde que a filosofia foi inaugurada como terreno das indagações, palco da suspeita e caminho em busca do conhecimento, achaques e ataques, disposições mórbidas para o confronto, desprovidas de lastro conceitual, fazem padecer algo que tanto deveríamos prezar. Por medo, insegurança, distrofias do pensamento e pobreza intelectual, derivados da onda conservadora viram moeda de troca nas relações interpessoais. Ninguém se dispõe a ouvir, abrir mão de suas “verdades”, por humildade e disposição para o conhecimento acumulado. Tudo vira “opinião que precisa ser respeitada”, mesmo que se infrinjam as leis mais básicas do convívio social.
Nada contra opiniões, desde que fundamentadas. Neste quesito, a tolice e a ignorância tomaram forma. O assoberbamento intelectual não é antônimo da ignorância. Ao contrário, não há sabedoria, nem conhecimento autênticos, sem disposição para a condição do “nada saber”, como já revelara Sócrates alguns séculos antes de Cristo.
Para os que vivem décadas dedicando-se ao esforço diário, por meio do trabalho educativo incansável e didaticamente disposto, verificar que os ecos da racionalidade se dissipam em meio a tantos apelos midiáticos à mediocridade, o sofrimento é inevitável. Em parte da juventude, esfarrapada de direitos educacionais, granjeia-se miséria e indolência diante do conhecimento. Instituições as mais variadas cumprem o seu papel sinistro de atrelamento e inserção na pauta conservadora. As sombras do passado nos atormentam. Como facínoras da ciência, conscientes ou não, frutificam às pencas os inocentes reprodutores da mediocridade reflexiva. Não há mais disposição para ler, conhecer com outros olhos, duvidar, questionar, mesmo que isso signifique reafirmar o que é possível e reformar o que está deformado.
Delirantes vagueiam pelas ruas do tecido social, assumindo posições retrógradas, indispostos ao diálogo qualificado, reproduzindo saberes abjetos e precaríssimos postulados sem significação alguma. Pior, não sentem vergonha de sua condição, por que ignoram absolutamente o senso moral e a ridícula posição em que colocam. Mas a história assegurará a contradição racionalista e a percepção dos angustiados dedicados ao conhecimento se transformará em vitória.