Há uma enorme distância entre a soberba e a consciência sobre si mesmo. Enquanto a primeira assenta-se na suposição de uma condição inicial inexistente, a segunda é fundada numa longa construção, o curso da experiência vital. Lugar comum entre os mortais, a presunção dá suporte a modelos de comportamento cuja publicidade fácil denuncia. Não há precauções. Todos estamos necessitados do referendo do “click” do outro na nossa sensação de felicidade.
Saber-se possuidor de uma experiência de vida que envolve várias dimensões como o trabalho, a convivência em espaços de produção de sentidos, não tem nada que ver com falta de humildade. Na vida profissional, por exemplo, encontramos motivos para nos definirmos como possuidores de um “know how” diferenciado.
Um grande amigo, professor Eliezer Pedroso da Rocha, sempre diz que a melhor profissão do mundo é a de professor. Descontadas as amarguras deste tipo de trabalho, inerentes ao processo de professar, tendo a concordar. Há muitos investimentos que podem ser feitos nesta carreira. Não haverá, sem dúvida, retornos materiais. O capital cultural, seu oposto, resulta de uma escolha, a de querer ser um bom professor. Nem todos os professores fazem essa escolha e o adquirem para as demandas de compreensão do mundo da educação. Há muitas circunstâncias do percurso nesta empreitada, que vão amadurecendo aos poucos a fruta do conhecimento.
Estudar é parte integrante fundamental do desejo de ser bom professor. Alcançar estágios de subjetividade cognoscente, sugere sem dúvida algum nível de partilha. No entanto, o investimento pessoal solitário na própria formação, diário, está para além do pragmatismo das dependências da institucionalidade. Há muitos bons professores que foram à luta, bem ou mal valorizados. Isto significa não se contentar com a presunção de conhecimento, nem com as condições em que se atua.
Muitos educadores, por decorrência de sua experiência de envolvimento social, se dirigiram para o mundo da academia, para buscar os fundamentos e possibilidades de compreensão da vida individual e coletiva. O capital cultural adquirido, não se vende em nenhuma prateleira de supermercado, mas é fruto de um empenho. Temos muitos sujeitos sociais que não tiveram essa oportunidade. Eles são fruto de outra dinâmica, a dinâmica do poder, do capital. Estão mais interessados em outras realidades sociais, outras práticas. Diante de seus ficcionismos discricionários, só há uma coisa a pensar: como devemos dar valor à nossa experiência.