Um dos mais belos aforismos de Nietzsche em sua obra principal, “Além do bem e do mal”, indica que “aquilo que é feito a partir do amor acontece além do bem e do mal”. Trata-se de uma crítica à moral claudicante e de uma defesa de um novo tipo de homem, mais nobre e menos vil. Paralelamente à sua ideia do “além do homem” e do “poder da vontade”, identifica a verdade no amor por essa nobreza humana, a ser conquistada. Quando não há nobreza, o que sobra é mentira e desumanidade.
Infelizmente contaminamo-nos diariamente pela irracionalidade moral, ou pior, por uma moralidade ultrapassada, sustentada em critérios de verdade subjetivos que nos fazem supor que somos melhores que os outros. Nada mais medíocre e desumano. Não conseguimos manifestar nossos sentimentos de forma autêntica e com integridade em relação aos outros. Preferimos a passarela dos subterrâneos da moralidade, o esconderijo dos porões escuros, sem transparência. Alimentamos a maldade em nós denegrindo e criticando sem transparência. Como dizia o grande Aristóteles, a ética é o bem e sua busca, um esforço contínuo em vida, não algo dado.
Mas nem todos aprendem. Falta o remorso, sintoma da boa moralidade. Esfregamos nos papéis ou nos teclados do mundo virtual nossas verdades e preconceitos destilando venenos. Não nos arrependemos. Queremos destruir os que nos incomodam. Uma pena. No entanto, o que é menor sempre desaparece diante do amor e da verdade. Fazer o bem e só ver o bem nos outros não é tarefa para muitos. A caminhada nesta direção nada tem que ver com os anos vividos. Dos mais novos devemos nos compadecer pela infantilidade moral e seu desamor. Dos mais velhos devemos nos envergonhar pela falta de exemplo.
Somos incapazes de superar o lado escuro da vida, a outra parte de nosso “justo meio” de Aristóteles. Não que devamos desconsiderar esse lado escuro, afinal, sem ele, não teremos impulso em direção ao remorso e à revisão de nossas posturas e julgamentos. Talvez, quando nos permitirmos avaliar a verdade pelo crivo do amor, superaremos o maniqueísmo que nos apequena.
Difícil condição humana. Ir “além do bem e do mal” é considerar nossa condição humana, demasiado humana, como a que é denunciada no aforismo da obra em referência (Humano, demasiado humano), que diz que “na conversa da sociedade, três quartos das perguntas feitas e das respostas dadas são para magoar um pouco o interlocutor; é por isso que muita gente tem sede da sociedade: ela confere a todos o sentimento de sua força”. O poder de denegrir, sem dúvida, se constitui numa força nada ética.