Alegria é um conceito central no pensamento aristotélico. A vida é a alegria. Estar vivo e colher os frutos dessa experiência não têm preço. Não há dissabores que abalem a alegria de viver, quando há sensibilidade suficiente para sentir os detalhes que garantem a paz interior. São as visões bonitas do cotidiano, em simplicidades complexas. Voos de borboletas, olhares de animais, flores se abrindo todos os dias.
Mas para quem atua em educação há outras alegrias. Na última semana estive revisando alguns textos para um livro que estou organizando com um querido amigo. Uma obra acadêmica, com textos de vários professores universitários de várias instituições públicas e privadas. Ao ler os primeiros, senti esta alegria em ver como há pessoas que escrevem bem, pensam bem, analisam bem os fenômenos sociais. Maior a alegria quando um dos amigos foi um aluno.
Tenho essa satisfação enorme na minha carreira. Um punhado de ex-alunos, queridos e amigos, que se dedicaram aos estudos com alegria e chegaram ao topo da carreira acadêmica. Doutores e doutoras, pós-doutores, todos criadores de alegrias e amores pelo conhecimento. Não há nada que substitua essa alegria. A própria trajetória pessoal fica pequena diante do que vemos na vida dos nossos alunos como alegria. São íntegros, dedicados, humildes e ao mesmo tempo cheios de ideias para dizer, expressar, movimentar. E as movimentam com a alegria que cabe a quem se dedica ao conhecimento.
Alguns outros não se dedicaram à vida acadêmica. Caminharam outros caminhos, traçaram outras trilhas e seguiram em frente. São gestores empresariais, gestores públicos, artistas, profissionais do direito, da saúde, da economia. Não importa a titulação ou o nível de formação. São felizes e a lembrança de suas passagens pela nossa vida nos enche de alegria. Dediquei muitos anos da minha vida profissional à educação básica, sobretudo no ensino médio. Outros tantos, 20 anos, ao ensino superior. Acabamos colecionando troféus de alegria, que são nossos alunos.
Os laços que criamos, as perpetuações em amizade e reconhecimento mútuo aumentam o sabor da vida profissional, redimensionando nossa existência pessoal. Por esta razão, no saldo entre as intempéries da vida e as conquistas pessoais, predomina a alegria, sobretudo quando temos certeza de que, por acaso ou escolha, estamos situados no exercício de nossa profissão. Depois dos temporais, os investimentos persistentes nos fazem colher os frutos. Eles aparecem com o tempo, se materializam nos saldos humanos que legamos de geração em geração, com nosso trabalho parcimonioso e alegre, sempre alegre.